sábado, 14 de fevereiro de 2009

O carneirinho


Mês passado meu filho fez 2 anos, apesar de hoje eu não gostar muito de aniversários, lembro-me de quando criança, eu simplesmente achava mágico, e de fato era mágico, assim quero que seja com meu filho, que ele seja feliz como eu fui. Diferente da maioria dos pais, quero que meu filho seja ele mesmo, não uma extensão da minha vida, e muito menos que venha ser minha imagem e semelhança, quero que ele seja ele mesmo, que não tenha a missão de fazer as coisas que não fiz e muito me realizar, Rubem Alves diz que não devemos ver nossos filhos como flechas que jogamos em nossos alvos, mas sim pássaros, que voam por conta própria, traçam seu próprio caminho e veem coisas que nunca vemos.
Perguntei-lhe o que gostaria de ganhar, simplesmente ele me respondeu sem duvidar, um cavalo, logo pensei que seria fácil, comprar-lhe um cavalo de brinquedo, igual a um que o marido da Maisa deu pro seu filho Jaime quando nasceu, (adorei essa série, uma das poucas coisas produzidas pela TV brasileira que da pra assistir), mas meu filho tratou logo de dizer que queria um cavalo igual a da sua prima Pepe, então pensei, peraí, a Pietra tem um cavalo de verdade, não acredito que meu filho gosta de cavalos, eu odeio cavalos, fiquei por alguns segundos meio que sem entender, pois em nosso cotidiano não existe nada que lembre cavalos ou coisa parecida, achei estranho, quem está ensinando esse menino gostar de cavalos? Então lembrei que ele é pássaro e não flecha, e conseguiu ver os cavalos em algum de seus voos que eu não fui, em algum jardim distante, ninguém lhe ensinou gostar de nada, pois gostar não se ensina, ele simplesmente gostou por ele mesmo, deve ter se deslumbrado vendo um deles cavalgando por detrás de algumas margaridas ou orquídeas, não sei, só sei que pra ele os cavalos são especiais. Então fiquei feliz.
Há muitos anos atrás, quando as noites eram bem melhores dormidas, e os dias bem mais ridos que hoje, minha mãe-velha (avó) foi passar uns dias na minha casa, lembro que comiamos frango assado todas as noites, na verdade não era muito fã de frango, mas passei a gostar, saiamos para passear e brincávamos dobrando papeis e recortando catálogos Hermes, lembro-me que gostava de deitar com ela na rede, e ficar olhando seus colares grandes e brilhosos, ela adorava contar histórias de quando ela era jovem, de como as coisas eram antigamente. Os dias foram passando até que um dia ela teve que ir embora, então minha avó fez um carneirinho de parafina pra eu não ficar triste, passou a noite todinha derretendo uma vela e moldando o brinquedo, quando eu acordei de manhã, ela já havia ido embora, mas tinha deixado o carneirinho de vela derretida pra mim e pro meu irmão.
Como já disse, não gosto muito de animais, e não adianta ficar me mandando e-mail criticando, pois eu sou assim, vem de dentro de mim, não adianta eu ficar fazendo tipo para os outros me acharem bom. Mas existe uma exceção, gosto de carneiros, então lembrei que deve ser porque ganhei o carneirinho de parafina, meu filho também deve ter seus motivos para gostar de cavalinhos, um motivo que é só dele. Assim somos nós, temos todos nós nossos próprios motivos, nossas próprias razões, e por mais que perguntem, nunca vão entender. Assim diz a musica do Renato Russo, “Eu era um lobisomem juvenil” (nunca entendi o nome, mas a música é legal)

......O que sinto muitas vezes faz sentido
E outras vezes não descubro o motivo
Que me explique porque é que não consigo ver sentido
No que sinto, no que procuro e desejo que faz parte do meu mundo
O arco-íris tem sete cores
E fui juiz supremo
Vai, vem embora, volta
Todos têm, todos têm suas próprias razões......


Minha avó foi embora de novo, e dessa vez ela não deixou nem um carneirinho, isso me fez chorar bastante, mas acho que já estou me acostumando com sua falta, não gosto de passar na frente da sua casa, pois lá está cheio da sua ausência, as cadeiras do pátio, os bichinhos de gesso, as plantas dos vaso, e principalmente na rede de seu quarto, que ela descansava as costas, lembro-me sempre dela lá, fazendo planos, ela adorava a vida, talvez mas do que eu.

A Tempestade e o Sol

A vida é frágil e viver
É um lindo momento
Quando se sabe amar
Notar a poesia perdida
No tempo rebuscar
Num eterno acreditar
Será que o sonho acabou?
Será que o que somos se foi?
Sei que a tempestade dará seu lugar a um dia de sol...

Tenho certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora
Mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim
Isso não me impede de chorar

Os nossos momentos
As nossas idéias
Presente em todas as canções
O que nós sentimos
Os nossos desejos seguirão
Em nossos corações
Você foi tão cedo
A vida é um mistério
E ela não diz porque...
Mas tua semente hoje está
Presente e vai florescer...

Tenho certeza que vou te encontrar
Não sei o dia e a hora
Mas sei o lugar
Sei que você está bem
Mesmo assim
Isso não me impede de chorar
Kim e Júlio

Todas as vezes que me lembro dela, lembro-me do carneirinho, não o tenho mais, mas ainda posso lembrar sempre que sinto falta, acho que isso é um artifício que nossa mente cria pra acabarmos por nos acostumar com nossa saudade das coisas. Não sei como fazer, mas vou comprar um cavalo para meu filhinho, pra seja como o carneirinho que minha avó me deixou, pra que ele sempre lembre de mim, mesmo quando eu esteja distante, sempre, sempre ,sempre, ele lembre de mim.