terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Bom Senso

A cada dia que passa eu tenho mais certeza que eu não sou desse planeta, simplesmente eu não sou daqui, de um tempo pra Ca, as coisas passaram a me incomodar muito sabe? Estamos vivendo simplesmente em guerra o tempo todo, todos contra todos, as pessoas que você menos espera estão de prontidão pra lhe chutar pelas costas sempre que possível, o cara que ri pra você aqui, dois minutos depois esta colocando o pé pra você cair, palavras como favor, confiança, gratidão simplesmente perderam o sentido, acho que vou até mandar uma carta pro seu Aurélio tirar de vez do dicionário tudo isso, simplesmente não fazem mais sentido, jogaram no vaso sanitário e puxaram a descarga definitivamente. Os tempos de guerra infinda deixam-me muito cansado e triste, não queria viver assim, Porem tudo esta terminantemente decidido, salve-se quem puder.

Mas as palavras que eu tenho mais saudade são as seguintes: bom senso, se a humanidade tivesse mantido ela, as coisas não estariam assim. O bom senso é o que diferencia o homem das maquinas, saber julgar, ponderar, ser humano é ter bom senso. Essa é com certeza a maior das leis, todas as outras doutrinas tendem a vir depois, caso o contrário, não precisaríamos mais de pessoas para julgar os casos, simplesmente alimentaríamos um software com todas as informações e teríamos a sentença impressa em poucos segundos, minutos depois estaríamos fazendo cumprir a pena, sem choro nem vela. Mas a vida não pode ser assim, todos somos seres diferentes, com características diferentes, com vontades, histórias diferentes, o que há de acontecer amanhã não esta em nenhum livro e muito menos em um manual, somos seres em eterna construção, em eterno nascimento, somos então, como diria Nietzsche o milagre da única vez.

Esses dias alguém tentara me explicar porque tomou determinada atitude que me prejudicou bastante, dizia ela ter sido apenas justa, pois cumpriu rigorosamente a lei, e o tribunal de sua consciência estava limpo, mas não estava, seu olhar de choro guardado a denunciava, isso não é certo. Na passagem bíblica eclesiastes 7.16 o rei Salomão diz o seguinte: -...Não sejas demasiadamente justo, nem demasiadamente sábio; por que te destruirias a ti mesmo... Sabe o que ele quis dizer com essas palavras? Simplesmente tenha bom senso, depois de ter aplicado a dose de bom senso, toda lei será justa, não doera e muito menos será sentida como eu senti. A única coisa que eu pude dizer a essa determinada pessoa é que sua justiça estava lhe matando.

Bom Senso

Já virei calçada maltratada
E na virada quase nada
Me restou a curtição
Já rodei o mundo quase mudo
No entanto num segundo
Este livro veio à mão
Já senti saudade
Já fiz muita coisa errada
Já pedi ajuda
Já dormi na rua
Mas lendo atingi o bom senso
A imunização racional

Tim Maia.

Verdadeiramente ando bem cansado, gostaria de achar o livro do Tim Maia e atingi o bom senso, e dar de presente aos outros uma dose de bom senso, mais lembrei de uma frase de Eurípedes que tinha lido a anos que diz o seguinte: "Tente colocar bom senso na cabeça de um tolo e ele dirá que é tolice." (Eurípedes) sei que preciso começar tudo de novo, mas é difícil, é difícil dizer que ter gratidão por exemplo, perpassa pelo bom senso ou que nem a experiência muito menos a sabedoria(que muitas vezes é apenas presumida) não substituem. Lembrei-me então de Adriana Calcanhoto.

Senhas

Eu não gosto do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu agüento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências
Eu não ligo pra conchavos
Eu suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos

Mas o que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu agüento até os modernos
E seus segundos cadernos
Eu agüento até os caretas
E suas verdades perfeitas

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu agüento até os estetas
Eu não julgo competência
Eu não ligo pra etiqueta
Eu aplaudo rebeldias
Eu respeito tiranias
E compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades

O que eu não gosto é do bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Não, não gosto dos bons modos
Não gosto

Eu gosto dos que têm fome
Dos que morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

Eu gosto dos que têm fome
E morrem de vontade
Dos que secam de desejo
Dos que ardem

Como nas senhas de Adriana, me sinto nesse caos. Sim, é preciso recomeçar incondicionalmente, preciso procurar novas pessoas para criar novas expectativas, pois precisamos delas para viver, e as velhas pessoas que me rodeiam agora, não me permitem mais expectativas, não espero mais afagos,mesmo que eu as tenha dado pistas, evidencias e provas de que gostaria de confiar, ter como amigos, descansar ao seu redor. Gostaria de ver um pouco mais de gratidão nas pessoas, ou pelo menos acreditar que ainda há, gostaria de ter chance de me defender sempre que atacado, mesmo das coisas velhas, isso me faria bem. O filme por aqui por essas bandas anda meio sem final, o mal anda vencendo, a arrogância se perpetuando e as injustiças se multiplicando. Estava precisando dizer que tudo passa, estava precisando dizer que ainda é possível mudar, Estava precisando mesmo é de alguém legal pra conversar, de Bom Senso, só isso.

sábado, 10 de julho de 2010

Los dezessiete


Lembro-me a quando tive acesso algumas noções de espanhol através de um casal de missionários peruanos de uma igreja presbiteriana que eu freqüentava, tenho que admitir que sempre tive admiração pelas línguas latinas, mais a partir desse período me tornei um apaixonado por musicas castelhanas e italianas, aprendi uma porção delas, ouvi incansavelmente equilíbrio distante do Renato e alguns hinos cristãos centenários em castelhanos gravados em uma fica cassete velha que ganhara de um amigo.
Mas meu amor por musicas castelhanas vinha de um tempo bem anterior, quando certa vez ouvi na casa da minha professora de piano, simplesmente, a mais bela, singela, delicada, perfeita e suave voz de toda a minha vida, acompanhada de um dedilhado de violão quase que divino. Por quase 5 minutos fiquei inerte, apenas ouvindo aquela linda canção. A música chama-se Volver a los 17 cantada por Mercedes Sosa. Mercedes foi uma das mais lindas vozes que o mundo já ouviu, de uma afinação e firmeza vocal impar e uma capacidade de interpretação quase que divina. Mercedes era argentina, se foi há pouco tempo, mas sua voz continua por ai, humilhando muitos que dizem cantar.
Como se não fosse de esperar, quase ninguém a conhece no Brasil (“aqui nos gosta de rebolation”), sinceramente tenho pena de quem nunca ouviu Volver a los 17 ou qualquer outra música de Mercedes. Inclusive acho, que obras semelhantes deveriam ser obrigatório nas escolas, como forma de combater essa contra-cultura que anda nos bombardeando, mas isso é outra coisa, o que eu quero falar e sobre Volver a los 17 que na verdade, somente ficou imortalizada na voz de Mercedes Sosa, mas que é de autoria de Violeta Parra (fui descobrir isso bem depois), a canção é bem a minha cara, é saudosista, narra sutilmente a historia de alguém que volta a seus 17 anos depois de ter vivido por quase 100 anos, algo como a perfeita vivencia da vida, a junção da beleza da juventude com a experiência dos anos, algo almejado por 10 entre 10 pessoas com muitos anos de vida. Não me acho ainda vivido suficiente para ter a experiência dos 100 anos, mais gostaria muito de voltar a meus 17 anos com as coisas que sei hoje, às vezes me pego fazendo isso, transcendendo minha alma aos 17 anos e às vezes aos 15. É a possibilidade que ninguém pode nos tirar ou interferir, a transcendência é o ponto de sustentação da sanidade daqueles que sofrem, é o poder de se vingar silenciosamente de quem não gostamos ou quem nos faz mal, é a possibilidade de irmos onde bem entendemos e estarmos com quem quisermos, mesmo estando na mais fria e escura prisão do mundo. Sei que como de costume, vou receber críticas sobre esse texto, mas duvido, que haja alguém nesse mundo, que não transcende sua alma para lugares mais belos, mais calmos e serenos. Gosto da calma e do silêncio, nele a minha viagem de volta aos meus bons dias são mais profundos e reais.

Volver a Los 17
(Violeta Parra)
Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
es como descifrar signos sin ser sabio competente,
volver a ser de repente tan frágil como un segundo
volver a sentir profundo como un niño frente a Dios
eso es lo que siento yo en este instante fecundo.

Se va amarrando, amarrando
como en el muro la hiedra
y va brotando, brotando
como el musguito en la piedra
como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Mi paso retrocedido cuando el de usted es avance
el arca de las alianzas ha penetrado en mi nido
con todo su colorido se ha paseado por mis venas
y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
es como un diamante fino que alumbra mi alma serena.

Se va amarrando, amarrando
como en el muro la hiedra
y va brotando, brotando
como el musguito en la piedra
como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
nos aleja dulcemente de rencores y violencias
solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes.

Se va amarrando, amarrando
como en el muro la hiedra
y va brotando, brotando
como el musguito en la piedra
como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

El amor es torbellino de pureza original
hasta el feroz animal susurra su dulce trino
detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
el amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero.

Se va amarrando, amarrando
como en el muro la hiedra
y va brotando, brotando
como el musguito en la piedra
como el musguito en la piedra, ay si, si, si.

De par en par la ventana se abrió como por encanto
entró el amor con su manto como una tibia mañana
al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
colando cual serafín al cielo le puso aretes
mis años en diecisiete los convirtió el querubín.

Voltar aos 17
Voltar aos dezessete depois de viver um século
é como decifrar signos sem ser sábio competente
voltar a ser de repente tão frágil como um segundo
voltar a sentir profundo como uma criança frente a
Deus
isso é o que eu sinto neste instante fértil.

Vai se amarrando, amarrando
como no muro a hera
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra, ai sim..., sim..., sim...

Meu passo recuado quando o de vocês avança
o arco das alianças penetrou em meu ninho
com todo seu colorido passeou por minhas veias
e até a dura corrente com a qual nos ata o destino
é como um diamante fino que ilumina minha alma serena


Vai se amarrando, amarrando
como no muro a hera
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra, ai sim..., sim..., sim...

O que pode o sentimento não o pôde o saber
nem o mais claro comportamento, nem o mais amplo
pensamento
tudo muda o momento qual mago condescendente
nos afasta docemente de rancores e violências
Só o amor com seu saber nos torna tão inocentes

Vai se amarrando, amarrando
como no muro a hera
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra, ai sim..., sim..., sim...

O amor é redemoinho de pureza original
Até o feroz animal sussurra seu doce canto
detém os peregrinos, libera os prisioneiros
o amor com seus caprichos o velho torna criança
e ao mau só o carinho o torna puro e sincero

Vai se amarrando, amarrando
como no muro a hera
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra, ai sim..., sim..., sim...

Completamente a janela se abriu como por encanto
entrou o amor com seu manto como uma morna manhã
ao som de seu belo toque fez brotar o jasmim
entrando qual serafim no céu colocou brincos
Meus anos em dezessete os converteu o querubim

Gostaria eu voltar a sentir profundo como uma criança frente Deus, ando me sentindo meio cinza por esses dias, sem cor, o resgate a inocência talvez seja a chave, mas como deixar de saber o que já se sabe? Seria a felicidade a arte de não saber o que nos deixa triste? Não saber dos rancores, das violências e das mentiras? Mas o amor liberta os prisioneiros, faz do velho criança. E faz o que é mal tornar-se puro e sincero, então, logo, é amor e a verdade, movido pela saudade, nos faz voltar aos 17 e nos apaixonarmos de novo pela vida, encontrarmos em um sonho bom nossos amorzinhos perdidos, nossos desejos esquecidos, nossos dias felizes. Logo presumo que nossa felicidade esta condicionada a uma boa saudade para que possamos voltar, assim como diz Rubem Alves:

“A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar.”
Ou Pablo Neruda:

...Saudade é amar um passado que ainda não passou,
É recusar um presente que nos machuca,
É não ver o futuro que nos convida...

Mas o mais gostoso de voltar está no reencontro, presumo ser a palavra mais linda do mundo, é simplesmente tudo que queremos. Do encontro não sabemos nada, nada certo esperamos, mas do reencontro esperamos tudo, que todos nossas noites e noites de sonhos se realizem, que a luz seja exatamente leve, que o vento seja frio, que o perfume seja o mesmo que o silencio seja a trilha sonora mais intensa, que o abraço seja eterno que o toque da mão seja a cura da saudade que um olhar nos deixou.
Sempre sonhamos em nos reencontrar, cada um de nos tem algo pra reencontrar em algum lugar e pensa há anos no momento. No reencontro estão todas as nossas expectativas, tudo que esperamos na vida, muitas vezes o reencontro é com agente mesmo, muitos se perdem e nunca conseguem se encontrar, mas na maioria das vezes, esperamos reencontrar alguém que vai alegrar nossa alma, fazer de nosso espírito festa. Noutras vezes esperamos uma vida para reencontrar alguém que se perdeu dentro de si e essa pessoa nunca mais reaparece, deixa apenas um imenso vazio e silencio como resposta.
Mas onde mora o reencontro? Mora na essência do amor e da verdade, e faz com que voltemos a los 17 e sejamos felizes. Eu quero voltar ao interior de mim e ser mais forte, às vezes o que está pela frente não é para nós, muitas vezes apenas nos destrói, nos poda, nos castra. Lembro-me de um provérbio chinês que diz o seguinte:
"Com mentiras poderá ir em frente neste mundo, porém nunca poderá voltar atrás."
Nem sempre ir é o melhor, como muitos pensam, para ir, nem sempre é necessário ser honesto mas para voltar sim, por isso julgo voltar mais importante que ir. Por lá eu só encontro gente legal que me faz bem, que me fez feliz.

domingo, 4 de julho de 2010

Algo a mais (ou "Só de Sacanagem")


Essa semana, mais uma vez, eu senti vergonha de ser brasileiro. Acho que nós chegamos a um ponto irreversível, não dá mais para morar nesse país (só moro aqui por falta de opção). O grau de corrupção a falta de educação e brutalidade chegou a um patamar inconcebível. Vi no jornal alguns casos de violência nas escolas, professoras sendo queimadas, auxiliares sendo pisoteadas e porteiros sendo agredidos covardemente. Penso que esses alunos, que na verdade não deviam ser chamados de alunos e sim de bestas selvagens, deveriam nunca mais pisarem na portaria de uma escola pública, pois no caso deles, a educação já não resolve mais. Sim, é verdade, sou educador, mas não tenho a falsa ideia de que a educação resolve tudo, existe algo a mais, que está além dos anos de estudo que alguém possa ter. As pessoas mais honestas que eu conheci na minha vida, eram pessoas de baixa escolaridade. Os animais que agrediram uma doméstica essa semana, eram todos de classe média e bom grau de escolaridade. Boa índole e caráter independe de posição social e anos de cadeira de escola, existe algo mais.

Quase todos os dias via seu João vender picolés na parada de ônibus em que eu esperava para ir a universidade, mas existia uma coisa que chamava muito a minha atenção, era a honestidade daquele senhor, por vezes o vi correndo atrás de pessoas para entregar trocos esquecidos ou canetas caídas no chão, eu mesmo fiz dois ou mais testes com ele, comprava meu picolé de cupuaçu segundos antes da chegada do ônibus e saia correndo logo após sem lhe dar tempo de me dar o troco, mas não adiantava, no outro dia, religiosamente, seu João vinha me dar o troco de ontem, seu João sabia apenas ler o suficiente para apreciar seu novo testamento, livro inseparável do seu dia-a-dia.

Disse-me ele uma vez nunca ter sentado em uma cadeira de escola, lhe ensinara a ler uma vizinha de bom coração como ele mesmo dizia. Posso lhes afirmar que, em 5 anos universidade não vi, nem de perto, nada que pudesse colocar a prova a honestidade daquele homem, sua alegria era simplesmente contagiante, sempre lhe vi sorrindo e tratando todas as pessoas maravilhosamente bem, sua esperança de que as coisas iam melhorar era impressionante, sempre acreditou assim.

Existem valores que estão acima de o quanto as pessoas educaram-se institucionalmente, esses valores distanciam-se mais ainda com o processo que estamos vivendo atualmente em que os alunos estão simplesmente perdendo sua identidade, seu nome, sendo reduzido a um número no diário de classe, bons eram os tempos que a educação era artesanal, chamada nome por nome, olho no olho, leitura na mesa da professora, conversa, individual ao pé do ouvido, abraço de bom final de semana. Hoje os professores são inimigos de seus alunos, fazem provas cheias de pegadinhas para ferrar mesmo, se satisfaz com as notas baixas, vê o seu dever em reprovar, castigar, aniquilar. Assim vão se criando esses animais que espancam porteiros, idosos, queimam índios batem na mãe. Esses dias mesmo, vi no jornal que um rapaz matou a mãe com um chute no estomago, sinceramente, alguém acha que vai resolver se mandar esse animal para escola agora? Não da mais, é um ser irrecuperável, talvez fosse melhor jogá-lo com outros animais no zoológico para que ele embruteça de vez. Valores como honestidade, hoje em dia, virou sinônimo de otário, quem devolve um troco a mais ou dinheiro achado é motivo de chacota, é regra levar vantagem em tudo que puder, às vezes não é nem por precisão, mas pelo simples prazer de levar vantagem, é isso o que muitos chamam de jeitinho brasileiro, parece que um negócio cultural mesmo, aqui todo mundo acha bonito, mas lá fora é horrível, todo mundo tem medo de brasileiro, tem fama de ladrão, bagunceiro e vadio. Não adianta reclamar, essa é a imagem que a maioria faz questão de vender, mas o pior mesmo é que esses valores estão sendo passados “oficialmente” nas escolas, vi uma vez uma professora chamar o gari que devolveu 5 mil dólares no aeroporto de São Paulo de otário, dizia ela não devolver nunca, principalmente porque seu salário era de merda, agora eu lhes pergunto, que valor essa professora pode passar para seus alunos? O valor do jeitinho brasileiro? O jeitinho de ficar com o a borracha da coleguinha ou o lápis do amiguinho? Mais pra frente o jeitinho de roubar na balança? Ou quem sabe um jeitinho de ficar com 10% da obra construída? Ou mesmo 20% do dinheiro da merenda das crianças? Assim vamos formando nossos futuros corruptos, tudo oficiosamente, tudo na escola. Dizem ainda que o salário de professor é baixo, mas para esse tipo eu acho que ainda ta muito alto, deviam diminuir mais um pouco.

Só de sacanagem vou publicar o poema de Elisa Lucinda chamado “Só de sacanagem”

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro, do meu dinheiro, que reservo
duramente para educar os meninos mais pobres que eu,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus
pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e
eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança
vai ser posta à prova? Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que
tempos
difíceis existem para aperfeiçoar o
aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus
brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao
conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e
dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva
o lápis do coleguinha”,
” Esse apontador não é seu, minha filhinha”.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido
que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca
tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica
ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao
culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do
meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse
o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu
irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a
quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o
escambau.
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde
o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
quiser, vai dá para mudar o final!

(Elisa Lucinda – Só de sacanagem)

Enquanto ao seu João que vendia picolé, voltei eu 8 meses depois de formado ao mesmo lugar, seu João já não estava mais lá, a senhora ao lado me falou que ele tinha ido embora há dois meses, quando em uma ação policial de “limpeza das calçadas” de vendedores ambulantes, a policia - super delicadamente, diga-se de passagem - quebraram-lhe uma perna e um braço e destruíram seu carrinho. Mas muita gente continua lá na calçada, sabe por quê? Porque pagam sua mensalidade aos policiais, são protegidos. Eu sabia que seu João nunca ia me decepcionar, ele não entrou no esquema, pois seu João tem uma coisa diferente dentro dele, coisa que as escolas não ensinam e que faltam de monte aos policiais que lhe bateram que se chama honestidade, quase em extinção nesse país, mais ainda existe. Seu João eu tenho orgulho de ter lhe conhecido, aonde quer que o senhor esteja.



terça-feira, 18 de maio de 2010

O diário do Menininho


Em uma galáxia distante, milhares de anos luz daqui, existia um menininho muito feliz, mas o tempo começou a lhe ensinar a ser triste, então ele passou o resto de seus dias pensando em voltar aos dias antigos, mas isso não é possível, então o menininho vivia como dava, mesmo chateado com muitas coisas, a pobreza, a fome das pessoas, a maldade, tudo isso o maltratava muito, parece que ninguém mais sentia a seu redor, mas pra ele , parece que tudo doía mais, as vezes as coisas já não valiam mais a pena, mas era preciso continuar, seus gostos e excentricidades e sua “chatice“ afastaram quase todo mundo, então ele se sentiu sozinho, a compreensão dos outros era cada dia mais distante, ele odiava os bajuladores, não aceitava falsos elogios, pois seu ego não precisava disso, sabia exatamente o que era e onde poderia chegar, sua compreensão do mundo talvez tenha se tornado tão grande que grande parte das pessoas, do seu mundo, perderam a relevância, ele via por dentro das capas as reais intenções, sentia o coração sombrio das pessoas, via através dos olhos. Poucas pessoas realmente lhe decepcionaram, pois de poucas pessoas ele esperou alguma coisa, de poucas pessoas ele não conseguiu ver a realidade. Mas essas poucas pessoas quase o mataram, ou quem sabe o mataram, pois delas, ele esperou tudo que não esperara das outras.
O menininho aprendeu a amar e desamar com a mesma pessoa, a acreditar e desacreditar, a ser feliz e triste, o menininho se arrependeu dos seus caminhos, dos amigos que não fez, dos sentimentos que não cultivou, das próprias mentiras que contou, o menininho escreveu dezenas de canções e as cantou um milhão de vezes, mas poucos entenderam o que ele queria dizer, falou de um milhão de amores mas ninguém os achou, ou quem sabe tenha falado um milhão de vezes do mesmo amor que nunca existiu. O menininho é tão vazio, que de noite, chega a doer, uma saudade de alguém que nunca esteve, que ele não conhece, então disseram que ele estava doente, que deveria tomar remédio antivazio, ou antisaudade ou antitristeza, como se existisse remédio pra tal.
Um dia desses o menininho ouviu Janaina do Biquine Cavadão e se achou igual à Janaina, pensou então que falavam dele.

Janaina acorda todo dia às quatro e meia
E já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu
Janaina é passageira
Passa as horas do seu dia em trens lotados
Filas de supermercados, bancos e repartições
Que repartem sua vida

Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se Deus quiser.....

Janaina é beleza de gestos, abraços,
Mãos, dedos, anéis e labios
Dentes e sorriso solto
Que escapam do seu rosto

Janaina é só lembrança de amores guardados
Hoje é apenas mais uma pessoa
Que tem medo do futuro- que aconteceu ? -
Se alimenta do passado

Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Mas ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se Deus quiser.....
Já não imagina
Quantos anos tem
Já na iminência
De outro aniversário
Janaina acorda todo dia às quatro e meia
Já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu.


Assim como janaina ele tambem tem sonhos, ninguem os sabe, mas ele tem, ele não é de sonhar tanto, mas de vez enquando ele se pega fazendo planos. Não curte mais seus aniversários como antigamente. Sua distância do cotidiano “normal”, do caminho das pedras da sociedade, resultaram em muitas histórias, dizem que ele é mistérioso, que não acredita mais em Deus, mas 90% é lenda, e de lenda em lenda ele vai vivendo, O deus que ele não acredita mais é aquele que falsos profetas lhe venderam anos trás, o menininho não acredita mais que Deus seja propriedade de alguma religião ou que esteja apenas na gaiola de alguns, o menininho vè um Deus maior, que mora em algum lugar na imensidão, mas a imensidão é tão grande que as vezes o perdemos e de vez enquando o encontramos, é assim.
Um dia desses ele resolveu escrever um pequeno diario, esse diario se tornou grande demais, ele ja não conseguia carregar sozinho, descobriu então que seu “caderninho” amenizava a falta que lhe doia, então escreveu um milhão de letrinhas e sentiu-se um milhão de vezes melhor, despertou dez mil olhos e acordou mil anjos ao seu redor, com isso espera viver 10 vezes mais que antes e 100 vezes maior que outrora.
Que ninguem duvide do menininho, ele vai recuperar suas amizades perdidas, seus amores esquecidos, seu passado feliz, o menininho vai subir as estrelas e acender a lua do seu amor, o menininho vai levantar mais forte do que nunca, pois o menininho apesar de menininho é muito grande, ja não cabe dentro de si com facilidade, seus desagravos serão grãos de areia em relação sua grandesa.
La vai ele, escrever as metaforas do seu dia em seu caderninho que vai ser livro, la vai ele, escrever suas poesias de tristezas e aborrecimentos, la vai o menininho, deixem-o em paz, fale baixo não o encomode, ele é assim mesmo, la vai o menininho, mas pode esperar, ele volta, sempre ele volta.

domingo, 9 de maio de 2010

A EDUCAÇÃO EM TEMPOS DE PT


A não ser que você seja um companheiro do PT, você tem de estar preocupado agora, você que batalhou seus 4 ou 5 anos em uma universidade, ou até mesmo, especialização mestrado, La vai mais uns 3 anos no mínimo, você que passou noites e noites pensando no TCC, trabalhos em cima de trabalhos, ônibus lotado etc. Eu tenho uma triste noticia, se você não é do PT esta correndo sério risco de ficar desempregado, a educação brasileira em tempos de PT é totalmente dispensável, os melhores empregos públicos, mais algum privados ( por influencia) ficam nas mãos de algum semi-letrado “companheiro” do partido. O corporativismo do PT esta simplesmente desincentivando qualquer pessoa de estudar, não adianta quantas doutorados você tem, ou mesmo se você é pesquisador da NASA, se você não for do PT é carta fora do baralho.
Sei que é difícil para muitos observar por detrás da cortina de propaganda dos “companheiros”. Mas se observarmos bem, perceberemos a maquina pública totalmente infestada de semi-letrados, que com um discursozinho repetitivo se dizem os sabedores de tudo, os únicos capazes de lutar contra a classe burguesa. Eles só esquecem que a classe burguesa agora é representada por eles, estão esquecendo de virar o disco, ou não tem massa cinzenta pra criar outro discurso? Fico com a segunda opção, é falta de imaginação mesmo.
Sempre fiquei observando esses rebeldes sem causa, mesmo aqueles que se propuseram a fazer uma universidade, eles simplesmente não conseguem aprender, pois logo descobrem que para se dar bem só precisam se dar o trabalho de decorar meia dúzia de palavras pseudo-socialistas, e vestir uma camisa do “Che” (assim como eles dizem) sem pelo menos aprender o mínimo que seja da vida dele. Não é preciso fazer nada, os professores da universidade, na maioria das vezes “são bonzinhos” com essas pessoas. Parece até mesmo fazer parte de uma classe diferenciada, não precisam estudar e podem fazer o que quiser.
Não sei não, mais me parece que se tornou meio místico ser semi-letrado, ta na moda, e Cult. Se cair na besteira de estudar, o companheiro perde a graça, o diferente é não saber, o desafio e estar no maior cargo possível sabendo o mínimo. Parece no mínimo estranho mais é a nova ordem educacional brasileira, quanto menos melhor. Não me estranha se qualquer dia desses criarem cotas para professores analfabetos, não é que ainda não temos, pois temos muitos, mais vão querer assegurar a vaga. Estão querendo igualar as pessoas no final, quando o certo seria dar igualdade de condições no inicio. Toda e qualquer cota é um ato discriminatório, mas isso é outra história que um dia desses eu falo, o meu medo imediato mesmo são as cotas obrigatórias de professores analfabetos, pois como as coisas estão se encaminhando, estamos a um passo disso. Os cargos de confiança (que não precisam de concurso público) a cota de companheiros semi-letrados passa dos 90%, tem companheiro que eu conheço que não sabe nem o que o seu cargo quer dizer, outros não conseguem ler suas atribuições, e outros, piores do que todos esses juntos querem dar aula de “companheirismo” (no sentido corporativista da palavra) pros outros, acham que sabem tudo, o último biscoito do pacote, ganham os maiores salários, passam com o saquinho do caixa 2 pra todo mundo contribuir, querem convencer todo mundo que todas essas práticas são lícitas se tratando de sua classe, pois estão lutando contra a classe “burguesa”, vivem de saquear os cofres públicos e de enganar gente boba. O problema é que nosso pais esta cheio de gente boba, ou seja, campo muito fértil pra gente desse tipo prosperar. Gosto de chamar esse tipo de gente de professor de grego, não conhecem uma palavra do idioma, mais mesmo assim dão aulas para os que nunca ouviram falar de Grécia.
Ai está o problema deles comigo, eu sei que eles não sabem grego, e ver eles dia após dia enganar as pessoas me embrulha o estomago, não consigo tolerar, achar bonito e muito menos bater palma, e isso faz com que eu seja discriminado e colocado cuidadosamente embaixo do tapete.
Estava até pensando em entrar no mestrado esse ano, mais sinceramente tenho medo, lembro-me do último curso de informática que fiz em São Paulo, fui acusado de hacker e quase fui preso (literalmente), além de ter sido demitido. Hoje fico vendo gente que tem exatamente 0,00000001% da minha capacidade técnica, dando o maior prejuízo, mais sendo tratado como mestre. Às vezes eu acho que o conhecimento assusta alguns, se acham inseguros perto daqueles que sabem, preferem estar cercado de gente com cérebro de ameba. Essa é a única explicação razoável que minha mente consegue formular.
Gabriel Garcia Marques, escreveu “O Amor nos tempos do cólera” o meu desafio é escrever A educação nos tempos de PT. Sinceramente espero que as coisas mudem sabe? Um dia espero que as pessoas possam estudar sem o medo de achar que estão perdendo tempo, que os melhores postos de trabalho sejam dos melhores de fato, que as coisas boas sejam finalmente apreciadas nesse pais, que os professores de grego sejam desmascarados, que eu possa ir mais vezes a São Paulo estudar um pouco sem risco de ser preso, que as pessoas possam ler meu livro sem medo de serem pegas e taxadas, que eu seja menos alvo e a educação, finalmente, seja prioridade nesse pais.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

O Diário do Menininho - O livro

Por: Paulo Roberto Braga

Tenho que confessar pra vocês que estou me sentindo em pedacinhos, cheio de ausências e feridas, dores e tristezas, e sem ninguém pra dizer. Tem horas que quase me convenço que as ausências estão sendo maiores, mais ai eu descubro que meu dia perfeito é feito de pequenas coisas que me fazem forte por um segundo, e que sem pressa, eu posso me distrair com os pequenos pingos de chuva, e que por mais que tentem, nunca, aqueles que me detestam, vão conseguir me embrutecer e me tornar insensível às coisas ao meu redor, porque eu, acima de tudo, acredito nos meus ideais e nos meus princípios, pois podem até maltratar m

eu coração, mas meu espírito ninguém vai conseguir quebrar.


R$ 39,99


Autor: Paulo Roberto Braga
Tema: Diversos, Literatura Nacional, Filosofia
Palavras-chave: crônicas
Número de páginas: 155
Peso: 195 gramas
Edição: 1 ( 2009 )
Acabamento da capa: Papel supremo 250g/m², 4x0, laminação fosca.
Acabamento do miolo: Papel offset 75g/m², 1x1, cadernos fresados e colados (para livros com mais de 70 páginas) ou grampeados (para livros com menos de 70 páginas), A5 Preto e Branco.
Formato: Médio (140x210mm), brochura com orelhas.