quarta-feira, 23 de março de 2011

As Respostas de Amor são Sempre as mais Simples.



Perguntou-me então, um dia desses, certo alguém, o que deveria fazer em relação ao seu casamento, achava ela não gostar mais do seu par, então respondi, procure senti-lo compreende-lo e respeita-lo, fique com ele, tente ver o que há de bonito em seu coração. Em outra ocasião me perguntou uma moça o que deveria fazer de sua relação pois apesar de bastante complicada, achava ela, que ainda gostava  de seu amor, respondi então: Largue ele, antes que o amor termine de vez  e só fique rancor, abandone-o antes que não exista nada de bom de que se lembrar, termine, antes que não lhe sobre nem uma fantasia de recordação. A terceira pessoa , finalmente me disse: não sei se ainda gosto dele, não sei se ainda o perdoei e ele me perdoo. Então respondi: você não o perdoou, e nunca o fara, pois não sabe o que é perdoar, perdoar não é dizer e depois lembrar, perdoar é como um voo de pássaro, não deixa rastros, nem rancor, nem magoa, nem lembrança, é simplesmente  nunca mais falar sobre o ocorrido, e dizer que nunca existiu, é começar de novo, é renascer. Perdoar não é como o mover das cobras, cheio de rastros e marcas, é a ausência absoluta do passado que magoa.
Fico indignadíssimo com aqueles que dizem as coisas sem ao menos ter noção do que se trata, que banalizam, rotulam e modificam o significado das coisas. Por isso não saio aos quatro ventos dizendo que eu tenho a plena capacidade de perdoar, muito menos fico dizendo que o perdão é divino. Se fosse, eu, simples mortal, não teria capacidade de tê-lo. Mas as coisas não são assim, temos a errônea mania de achar que todo perdão é bom, mas não é, veja a dissertação sobre o perdão que Rubem Alves faz:

-” Não sei se se deva perdoar sempre. Como perdoar o torturador? Como perdoar o adulto que espanca uma criança? Como perdoar a inquisição, os campos de concentração, a bomba atômica, os homens públicos que se enriquecem às custas do dinheiro do povo que sofre e morre? Quem perdoa tudo é porque não se importa com nada.”

Nem tudo pode ser desculpado. Não se pode desculpar quando o pedido não é verdadeiro, por exemplo, não se pode esquecer quando o pedido e arrogante, não se pode deixar pra lá quando não se tem a noção da dor, do estrago, e das marcas que ficaram. O perdão não pode de forma alguma ser banalizado, dado de qualquer jeito, pois se corre o risco de sempre lhe fazerem o mal tendo a certeza que, posteriormente, sempre vira o perdão, então você acaba por se tornar previsivelmente vítima de sua própria bondade, se isso pode ser classificado como bondade. Digam o que disserem, mas existem coisas imperdoáveis sim, assim como existem dores que nunca passam ou feridas que nunca saram.
Assim diz a Música L'Aventura.

Quando não há compaixão
Ou mesmo um gesto de ajuda
O que pensar da vida
E daqueles que sabemos que amamos ?
Quem pensa por si mesmo é livre
E ser livre é coisa muito séria
Não se pode fechar os olhos
Não se pode olhar pra trás
Sem se aprender alguma coisa pro futuro
Corri pro esconderijo
Olhei pela janela
O sol é um só
Mas quem sabe são duas manhãs
Não precisa vir
Se não for pra ficar
Pelo menos uma noite
E três semanas
Nada é fácil
Nada é certo
Não façamos do amor
Algo desonesto
Quero ser prudente
E sempre ser correto
Quero ser constante
E sempre tentar ser sincero
E queremos fugir
Mas ficamos sempre sem saber
Seu olhar
Não conta mais histórias
Não brota o fruto e nem a flor
E nem o céu é belo e prateado
E o que eu era eu não sou mais
E não tenho nada pra lembrar
Triste coisa é querer bem
A quem não sabe perdoar

Acho que sempre lhe amarei
Só que não lhe quero mais
Não é desejo, nem é saudade
Sinceramente, nem é verdade
Eu sei porque você fugiu
Mas não consigo entender
Eu sei porque você fugiu
Mas não consigo entender
Renato Russo

Acho que toda ela fala de perdão, um caso de amor que pode dar mais certo pois não houve o perdão. Cheguei a conclusão que nem todas as vezes que uma historia de amor termina é porque o amor acabou, muitas vezes não é assim. Muitas vezes o amor continua, mas não é suficiente, falta compreensão, atenção e às vezes perdão, assim diz a música, acho que sempre lhe amarei, só que não lhe quero mais, quem nos garante que não foi pelo peso de saber que nunca conseguirá o perdão?

"É tão difícil perdoar alguém que nos machucou.
Mas é tão bom saber, que alguém nos perdoou".
trecho de uma Música que um dia mostro pra vocês

Finalmente depois de ter falado de tudo isso, para a ultima pessoa que me consultou, baixei os olhos e a vi, com uma fisionomia de quem não estava entendendo nada, me senti idiota outra vez, igual às outras milhões de vezes quando chego a conclusão de que poucas pessoas me compreendem (a outra imensa maioria me chama de doido). Então ela disse:
-Acho que vou perdoa-lo, mas o que eu digo mesmo para que ele me perdoe? Cheguei nesse momento a entendi que, de tudo que eu havia dito para ela, nada era pertinente, uma teoria ou conhecimento só tem valor quando usado praticamente, tudo poderia ser resolvido de uma maneira mais simples, então eu disse:
-Olhe pros olhos dele e diga apenas: perdoe-me amor.
Tempos depois encontrei-me ocasionalmente com a mesma pessoa, então ela me disse que tudo tinha ficado bem e isso lhe fazia muito feliz, dei um típico sorriso amarelo pra ela e respondi um legal.
Baseado nisso, aprendi, as respostas de amor são sempre as mais simples.



quinta-feira, 3 de março de 2011

MEDÍOCRE COMO EU


Não sou muito fã de futebol, assisto às vezes alguns jogos do São Paulo e da seleção brasileira, mas sem aquele fanatismo peculiar do homem brasileiro, lembro-me quando comecei a interessar-me por futebol, em uma manhã vi os gols de São Paulo e Barcelona no primeiro mundial conquistado pelo São Paulo, o lindo gol de cobrança de falta do Rai, de alguma forma, me fez olhar aquele esporte de maneira diferente, então comecei a torcer pelo tricolor.
Logo depois assisti a copa de 94, enfeiticei-me por aquele time, tudo foi muito mágico naquele ano, todo aquele sofrimento, O gol do Bebeto para seu filho, o gol do Branco contra a Holanda, e principalmente os gols do Romário, me deixavam cada vez mais ligados, lembro-me de cada jogo, gravei todos cuidadosamente em fitas de vídeo cassete e assisti incansavelmente por vários anos. Essa copa se romantizou na minha cabeça, me tornei então torcedor da Seleção Brasileira.
De uns tempos para cá, me parece que as coisas perderam um pouco a graça, não sei se dentro de mim, ou o futebol esta pior mesmo. Mas o que interessa mesmo, é que muito raramente eu assisto uma partida de futebol, só as vezes, pra não me desligar completamente.
Em uma dessas, poucas partidas, que ainda assisto, tive o desprazer de ver uma cena que me levou a acreditar que o problema não era eu, o futebol já não era mesmo definitivamente. Depois de levar um drible do Neymar o Juan, jogador na época do flamengo, deu-lhe uma pancada covarde, e como se ainda não fosse o bastante, foi até seu ouvido e esbravejou varias coisas, aquela cena me deixou tão chateado, decepcionado e desapontado com o esporte que simplesmente desliguei a televisão e fui ler.
Como fazia um tempão que eu não assistia futebol, até achei que tinham inventado uma regra proibindo a pratica do drible, pois por mais incrível que pareça, a maioria dos comentaristas, treinadores e “especialistas-sabe-tudo” davam razão a Juan alegando que o drible de Neymar visava humilha-lo.
No outro dia fui a internet pesquisar por alguma opinião que me parecesse mais sensata, na maioria dos fóruns, todos ficavam tentando decifrar quais palavras Juan teria dito nos ouvidos de Neymar. De várias bobagens que vi, uma postagem me chamou atenção, dizia um rapaz no final da pagina, já irritado com tantas adivinhações e teorias disse: “é simples o Juan disse: você tem a obrigação de ser medíocre como eu, seja medíocre como eu”. Pronto, foi isso mesmo que ele disse, independente de qualquer coisa que possa ter saído de sua boca, pra mim, foi isso que ele disse. Há tempos não via uma sacada tão inteligente como essa na internet, esse rapaz simplesmente pois fim ao monte de bobagens que escreviam. Depois disso ninguém postou mais nada, não quiseram dar continuidades às leituras labiais ou coisa parecida, pois por mais que conseguissem reproduzir fielmente as palavras daquele jogador, ninguém, poderia expressar de maneira mais fiel o que ele realmente tentara dizer.
Mas esse fenômeno de mediocridade não se revela apenas no futebol, essa obrigação, quase que decretada por lei, é uma realidade de todo o nosso pais. As pessoas que tentam um lugar melhor ao sol, ou buscam ler um pouco mais ou mesmo trabalhar mais, fazerem as coisas melhores, são simplesmente apedrejados nesse pais, ser competitivo, gerar concorrência é algo visto, na maioria das vezes, como afronta. Certa vez Tom Jobim disse que fazer sucesso no Brasil era ofensa pessoal, todo mundo jogou pedra e criticou, mas na verdade é isso mesmo, é inacreditável, inimaginável e inconcebível mais é verdade. É mais fácil derrubar quem esta escalando do que construir uma escada pra fazer o mesmo, partindo dessa mentalidade nosso país vai ficando pra atrás nos indicadores educacionais, já estamos atrás de quase todos os países da América latina em relação à qualidade de ensino, somos cada vez menos competitivos no mercado de trabalho externo, nosso qualidade educacional atual é comparada a países africanos em guerra civil. Estamos adotando a prática de impedir que outro cresça, pra não ficar pra trás, em vez de estudar pra crescer também. As grandes mentes brasileiras simplesmente estão indo embora pois se sentem perseguidas por aqui, são simplesmente pescadas pelas universidades americanas que descobriram que é mais vantajoso seguir a politica do quem da mais do que a politica do quem da menos adotada pelo Brasil.
Não tenho a petulância de me comparar ao Neymar jogando futebol, mas sei que na maioria das coisas que me proponho fazer eu faço bem, tenho opinião, procuro sempre melhorar, ler e estudar, mas estou de canelas roxas de levar pancada, de ter a vida dificultada, as portas fechadas, ser chamado de doido pelos que não conseguem compreender o que eu escrevo, ou mesmo ser chamado de hacker pelo simples fato de eu saber mais do que o Ctrl-C e Ctrl-V, ou abrir mais do que Word. Onde eu moro sou simplesmente uma ilha, tipo assim, rapaz, se você continuar lendo desse jeito ou escrevendo razoavelmente bem como faz, vamos continuar a castiga-lo, deixaremos de falar com você pra sempre.
Da trabalho sim se destacar, tentar descobrir algo novo, fazer qualquer coisa de maneira melhor, mais eficaz, da trabalho ser persistente, lutar por uma ideia, se dedicar a algo novo ou revolucionário, da trabalho tentar convencer aos outros de que existem maneiras mais eficazes de executar determinado trabalho feito a anos da mesma forma, da trabalho pensar, mas é preciso. Porém, infelizmente, no pais dos comerciais, no pais das maravilhas feito especialmente para esses brasileiros que não gostam de pensar, e que qualquer Alice se criaria muito bem, pois não deixa nada a desejar ao pais das maravilhas, a realidade é muito diferente, vivemos em um lugar sem futuro e perspectivas, alimentados por um nacionalismo puramente futebolístico, um pais onde a grande maioria da população é alimentada o suficiente para não morrer e continuar votando, mas nunca o bastante pra poder desenvolver o cérebro e tentar alçar voos mais altos ao ponto de se rebelar e por fim ao ciclo. E quando aparece alguém que tenta saber um pouquinho mais, vem então um Juan da vida e grita em seus ouvidos. Seja simplesmente medíocre como eu.