quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Se Perdeu de Mim


De uns tempos para cá, estou sentindo que algo de diferente aconteceu, não sei bem dizer o que foi, mas a atmosfera esta diferente. Como se de uma hora para outra eu acorda-se e me deparasse anos a frente, lembrei me do filme De repente 30 (13 Going On 30, EUA 2004) que a moça dorme aos 13 e acorda aos 30, como se esse intervalo não tivesse existido, apesar de ter.
Acabamos por não notar as coisas, pois estamos no processo diário, assim como quando você demora algum tempo para ver aquele priminho e diz: “Nossa como cresceu”. Talvez quem conviva com ele não consiga notar, mas sua historia com ele ficou parada na última foto que seus olhos tiraram dele, do último dia que você o viu, assim quando comparada com a realidade atual, há um choque, uma mudança brusca de idéia que você tinha dele.
Assim eu, como acontece com os priminhos distantes, acordei edeparei-me  com uma realidade diferente, meio estranha, como se eu tivesse, de repente, deixado muitas coisas em definitivo pra trás. Muitas concepções, certezas, esperanças e sonhos.
 Não falei isso pra ninguém, pois viriam com a resposta pronta de que era a crise dos 30, e como, junto com essas coisas que mencionei, minha paciência também foi embora, resolvi calar-me, deixei essa “coisa estranha” meio que domesticada dentro de mim, não dava muito ouvidos nem importância a essa sensação, estava tudo sobre controle, até que em um dia de fragilidade, fui surpreendido, inesperadamente, pela seguinte estrofe na triste voz do Renato;
Mudaram as estações,
Nada mudou.
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu,
Esta tudo assim, tão diferente.
(Por Enquanto Renato Russo)

Então todo meu equilíbrio desmoronou, comecei a me inquietar, mas me inquietar, não sofrer. Algo como um suave desespero, não era como antigamente, o desespero descontrolado que sentia, a dor insuportável e a tristeza absoluta, tudo tinha se transformado em “suave desespero”, uma dor fininha,  uma nostalgia pequena, uma melancolia acanhada.
Percebi então que algo muito surpreendente tinha ocorrido, meu corpo tinha desisto de lutar contra o que lhe afligia e simplesmente tinha se conformado com a situação, minha relutância de admitir que muitas coisas eu perdi tinha acabado, de que eu não era tão forte e muito menos tão esperto como imaginava. Tinha vislumbrado, enfim o mundo de cima e me visto como um grão de areia por baixo de muitos outros, o fim de um longo ciclo de egocentrismo que se desprendeu de mim.
O sociólogo Peter Berger, sintetiza muito bem meu estado atual:
“A maturidade é um estado da mente que se acomodou, que esta em paz com as coisas do jeito como elas são, que abandonou os sonhos mais loucos de aventura e realização. Não é difícil perceber que essa noção de maturidade é funcional na medida em que ela dá ao individuo uma racionalização por ter escolhido os seus horizontes.”

Assim então percebi que meus sonhos e desejos também já não eram os mesmos, não chegaram a morrer, mas foram transferidos, em minha mente, para o lugar das coisas que nunca vão acontecer,nunca vão chegar ou se realizar. Esses sonhos já não estão mais coloridos como antigamente, estão em preto e branco, mas isso não me causou raiva, mas sim, o “suave desespero” que já citei, e que agora já é companheiro constante.
Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar

Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim

E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia

Agora eu vejo,
Aquele beijo era o fim,
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
(A Cruz e a espada Paulo Ricardo / Luiz Schiavon) 
Acho que agora eu cresci de vez, meu sentimento infantil já quase não percebo mais, já não vou mais mudar o mundo e nem reconquistar o que eu perdi de valor pelas frestas dos anos, muito menos vou mudar a cabeça de algumas pessoas, essas coisas já não vão me perturbar tanto como antes, a serenidade dos anos acomodou-se sobre meus ombros e por fim me fez entender e chegar à conclusão de que existem muitas coisas que se despedaçaram de vez, muitas coisas se perderam e nunca mais vão voltar, que aquele beijo, aquele abraço aquele adeus, foram os últimos, e eu tenho que aceitar isso, mesmo que me traga uma dor fininha de saudade, La no fundo do coração, eu tenho que aceitar, tenho que aceitar que o convívio com algumas pessoas, nunca mais vai ser como antigamente, pois talvez ela tenha tomado um caminho diferente do meu e que vai marcá-la e afastá-la eternamente de mim, só vai me sobrar as belas lembranças e nada mais, assim também como tenho de aceitar que  não vou mudar o sentimento de ninguém em relação a mim e nem conseguirei gostar daquilo que não gosto como em um passe de mágicas.
Estava sentindo essa situação um pouco estranha, ate que lembrei deum lindo texto de William Shakespeare chamado “Aprendi”

“ Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém.
Posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e Ter paciência, para que a vida faça o resto.
Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.
Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.
Que posso usar o meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.
Eu aprendi...Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida.
Que por mais que se corte uma pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.
Aprendi... Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência.
Mas, aprendi também que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.
Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles.
Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sente.
Aprendi que perdoar exige muita prática.
Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.
Aprendi... Que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.
Aprendi que posso ficar furioso, tenho o direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel.
Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.
Eu aprendi que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, e que eu tenho que me acostumar com isso.
Que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro.
Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.
Eu aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto;
Aprendi que numa briga preciso escolher de que lado eu estou, mesmo quando não quero me envolver.
Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.
Aprendi que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também. Isso faz parte da vida.
Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.
Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.
Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério.
E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.
Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.
Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.”
(Aprendi William Shakespeare)

Na verdade se pararmos pra pensar, não acordei de uma hora pra outra, eu estava maquiando o tempo, a pintura escondia os anos que passavam e que eu não queria aceitar o que o mundo tinha me oferecido, o que a historia tinha contado e o que o destino tinha decidido, o importante mesmo é aprender a conviver, sentir menos dor, e aproveitar o que de bom há em cada coisa, e por mais que as pessoas tentem nos machucar e magoar, sempre existe um jeito de minimizar isso, e melhor, sempre existe um jeito de aprender com isso, os aprendizados de cada dia nos fazem homens e mulheres melhores,. É necessário, assim como Shakespeare, criamos uma lista de tudo que aprendemos, para não corrermos  o risco de fazer o que erramos de novo. Mas para isso, é preciso, aprender primeiro, a aceitar e admitir nossos erros, só assim tiraremos alguma lição, e foi isso exatamente que comecei a fazer agora, espero que meu coração sofra menos para que eu possa fazer minha lista de coisas que vou aprender daqui pra frente, espero que quando alguma saudade de algo que eu perdi bater, que não doa muito, ou de algo que já esperei, não seja forte ou tão intensa, mas que também ainda possa sentir e lembrar, mesmo que um pouquinho das coisas que me fizeram felizes um dia, que Deus more nas minhas ausências, pois sei que alguma coisa se perdeu de mim.