sábado, 31 de dezembro de 2016

Motivos...


    Não não, esse não foi um bom ano definitivamente, mas isso não vai ser motivo para que eu chore, guardarei minhas lagrimas para outras coisas. Fico pensando o quão a vida foi injusta comigo, mas olho ao redor e me parece que esse ano ela não foi justa com ninguém então não vale a pena lamentar, nem mesmo reclamar.
     Isso não quer dizer q não fique triste pelas coisas que foram embora sem explicação, ou que me empurraram pra fora sem explicação, eu fico sim, e muito. Mas eu também escolhi ter motivos. Não importa o quão sejam insignificantes para os outros, pra mim eu posso fazer ele grande, assim como a plantinha que minha mãe deixou aqui em minha casa. Sei que todas as manhãs quando acordo eu tenho que regá-la, e tirá-la do sol, à noite quando chego do trabalho, tenho que colocá-la na janela pra que ela sinta o sereno da noite e o sol da manhã até que eu acorde e faça tudo de novo por ela. Ninguém além de mim pode fazer isso por ela, por isso eu preciso estar todos os dias.
     Tem dias que está bem complicado para dormir, outros, quase impossível de levantar, então me lembro da plantinha, tenho colocar água em suas raízes, tirar as folhinhas secas, para que as novas belas folhas verdes apareçam com mais intensidade, preciso colocá-la no sereno de novo (não sei por que, mas a mamãe disse que preciso, e eu também percebi que ela gosta do sereno da noite).          Sei que na plantinha, estão  todas as pessoas que pensam em mim, que oram por mim, e que de certa forma me querem ver bem, e principalmente as pessoas que eu tenho que cuidar, sei que muita gente espera por mim, então eu sempre tenho que voltar.
     Então o que posso dizer, quando da sua vida, não restar quase nada? Encontre um motivo, seja ele qual for, para que você tenha vontade de continuar. Muitas vezes precisamos representar os sentimentos das outras pessoas em algo que possamos ver, e nisso não há problema algum. Permita-se ter um motivo, mesmo que seja pequeno para os outros, ele será grandioso para você.

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O AMOR DE ONTEM (PARTE II)


Criam-se alguns padrões incompreensíveis na sociedade,porém,  mais  incompreensíveis  ainda,  são  as  pessoas  que  os seguem sem ao menos questionar por que os seguem. Ando  assistindo  a novela  das  9,  que  dentre  muitas bobagens  retrata  a  história  de  um  casal que  se  separa,  e  a partir  disso  começam  a  se  odiar  e  brigar  constantemente inclusive com alienação parental fato horrível que um dia eu comento com vocês). Sei que se trata de uma obra de ficção,
mas na verdade corresponde a história de vida de milhares de casais.

Separação não está necessariamente ligada a ódio; certo que haja rancor e magoas; mas ódio não é necessariamente a palavra  que  deva  andar  em  conjunto  com  a  separação. Existem  histórias que  terminam  sem  ódio,  mas  são  históriasque  tem  como  protagonistas  pessoas  com  um grau  de maturidade de vida elevado, pessoas que conseguem perceber que  em  uma  união existem  diversas  coisas  a  se  ponderar,  a levar em consideração. Existem muitos casais que se separam ainda se amando por exemplo.

Os radicais dizem que a separação não deve existir, pois Deus estabeleceu que o casal deve permanecer junto até que a  morte  os  separe.  Mas  a  morte  de  quê?  Talvez  a  morte  da
compreensão,  da  Cumplicidade  ou  mesmo  da  confiança.  Ou mesmo,  quem  sabe,  Deus tenha se  referido  à  morte  da personalidade  de  quem  se  amou,  sim,  muitas  pessoas resolvem mudar,  e não  é  obrigação  do  seu  par  amar  a  nova pessoa  que  ela  se  tornou.  Mas  não amar  certa  pessoa,  não significa odiar, querer o mal, repudiar, ou querer  arrancar por força  de sua  memória  os  dias  de  convivência  bons  que passaram.

A  separação  não  significa  que  o  casamento  não  tenha dado  certo.  Ele  deu  sim,  deu  pelo tempo  que  durou,  os  dias bons,  os  momentos  felizes  e  especiais  não  devem  ser esquecidos. Tentar  apagar  isso.  É mutilar  uma  parte  de  sua memória. Mesmo  que  o  rompimento  se  dê por  algo  imperdoável (Sim,  há coisas imperdoáveis no mundo),  o fim da união não deve  ser sinônimo  do  ódio,  da  raiva  e  da  aversão.  É extremamente  necessário  que  se  cultive  na mente  os momentos  bons,  as  lembranças  de  festa, mesmo  porque, quase  todas  as  uniões  se desfazem  por  causa  de  um “equívoco imperdoável”; a separação ocorre quando ainda há amor, pois  tais  equívocos  são  tão  repentinos,  que  o  amor permanece inabalável, e muitas vezes se mostra maior do que o imaginado. A sensação de perda, Da à amplitude exata de o quanto certo alguém é importante e indispensável em sua vida. Ainda  assim,  quase  sempre  a  separação  é  a única  saída quando  se  trata  de  situações  imperdoáveis,  pois  mesmo havendo  amor,  a  mágoa gerada  por  tal  acontecimento  acaba por tornar a união algo insuportável. Então  porque  destruir a  quem  ainda  se  ama?  Por  que  a sociedade  diz  que  deve  ser  assim? Não  acho  que  seja umaboa justificativa.

Dizem  que  nosso  coração  é  bobo,  mas  não é. Ele  sabe ponderar as coisas. Um erro não apaga anos de alegria, dias de felicidades, fotos de aniversário, férias de verão, banhos dechuva e abraços apertados. Nosso coração não é injusto comoqueríamos que fosse. Por isso ele faz com que continuamos aamar  as  pessoas  que  nos  machucaram.  Isso  é  quase  que universal, mas sublime mesmo é admitir tudo isso sem culpa, é fazer  diferente,  é  não  ficar  ouvindo fofoquinhas para  se convencer de que seu par realmente “Não Prestava”, ou falar para  todos  que  não  quer ver  a  pessoa  de  maneira  nenhum, enquanto  seu  coração  está  em  desespero  para  enxergá-la
mesmo  que  de  longe,  sentir,  mesmo  que  lá  no  fundo  seu cheiro, ou ouvir de seus lábios, pelo menos, um “oi”.

É  sublime  admitir  que  ainda  gosta,  sentir  saudades  sem culpa,  relembrar  bons  momentos, remexer  fotos  antigas,  tirar aquela  roupa  do  fundo  do  guarda  roupa  e  sentir  seu  cheiro.
Ouvir um disco antigo ou ir a um lugar que sempre iam. Fazer isso não é demérito nenhum, é sim valorizar as coisas que lhe fizeram bem. Em vez de valorizar somente o que te fez mal.


Eu não me perdi
e mesmo assim você me abandonou
Você quis partir
e agora estou sozinho
Mas vou me acostumar
com o silêncio em casa
com um prato só na mesa

Eu não me perdi
o Sândalo perfuma o machado que o feriu
Adeus, adeus, adeus meu grande amor

E tanto faz
de tudo o que ficou 
guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita

Eu não me perdi
e mesmo assim ninguém me perdoou
Pobre coração -quando o teu estava comigo era tão bom.

Não sei por que acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser:
Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar -volta não
Porque me quebraste em mil pedaços.
Renato Russo

A música acima (Que por sinal eu acho uma das maislindas do mundo) sintetiza muito bem a ideia central do texto,fala  de  uma relação  que  se  acabou,  mesmo havendo  amor ainda. Fala de alguém que guarda um retrato com “A saudade mais  bonita”.  Deixa  transparecer  uma maturidade  e  equilíbrio imenso  quando  cita,  por  exemplo, que “O  sândalo  perfuma  o
machado  que  o  feriu”,  ou  seja,  posso  amar  alguém  que  me machucou  sem  problema,  ou mesmo  quando  admite  sua saudade em “pobre coração, quando o teu estava comigo era tão bom”. O que foi bom, nada nem nenhuma circunstância vai mudar. Por mais que sua “razão” queira. É impossível apagar da  mente  momentos  felizes,  ou  mesmo  negá-los  em  seu coração.

Existem coisas que não dão para entender, e muito menos conseguimos  explicar,  tentar  ficar imaginando  porque  certo alguém nos fez algo é muito doloroso, não vale a pena, assim como não vale perder tempo tentando convencer os outros que deixou  de  amar  alguém sem  de fato  ter deixado.  Precisamos de  menos  teatro  e  mais  sensatez, menos  encenação  e  mais bom senso.

É preciso que se tenha serenidade para relembrar os bons momentos sem reviver magoas, e de saber que nem mesmo  o  amor  sozinho,  é  capaz  de  manter  duas  pessoas juntas. Mas acima de tudo é preciso aprender com a vida e saber discernir  o  tempo  das  coisas,  dizer  não  quando necessário. Dizer eu te Amo sim, mas não volte, pois você me quebrou em mil pedaços...

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

SOBRE DROGAS, JOVENS E AMIGOS


Esses  dias  fui convidado  a  falar  sobre  drogas  em  uma 
escola próximo de onde trabalho, disse que não sabia se era a 
pessoa  mais  adequada  a  falar  sobre  o  assunto,  mas  mesmo 
assim  fui.  Disse  o  que  sempre  digo  em  relação, quando me 
perguntam sobre drogas, falei o seguinte: dizem que as drogas 
são  ruins  não  dizem?  Mas  não  é  verdade,  elas  são 
maravilhosas.  Todos  me  olharam  com  uma  fisionomia  de 
espanto ímpar, como se estivessem esperando eu voltar atrás 
e  dizer  que  era  mentira,  ou  brincadeira.  Mas  reafirmei  para 
todos aqueles que ali se encontravam. 

Certas  coisas  acabam  por  virarem  tabu,  e  poucos  tem  a 
coragem  e  a  sinceridade  necessária  para  quebrar  com  o 
conceito.  Estabeleceu-se  que  todo  mundo  que  fosse  falar  de 
drogas, tinha que dizer que ela é ruim, e assim ficou. Parecia 
meio que proibido falar diferente. 

Não podemos simplesmente dar desculpas simplista hoje 
em  dia  para  nossa  juventude.  Antigamente  bastava-se  dizer 
que  era ruim  para  encerrar  o  assunto,  mas  essa  pratica  está 
provada  que  não  foi  eficiente  e  precisa  ser  revista,  além  do 
mais, o nível de acesso de informação de um jovem de hoje, é 
milhares de vezes maior, que o nível de informação de alguns 
anos atrás. Não podemos simplesmente dizer “porque não” ou 
“Porque  sim”  ou  mesmo  “aquilo  é  ruim”  e  pronto.  As  meias 
verdades não funcionam mais.

Se seu filho, aluno, sobrinho, enteado lhe perguntar sobre 
a  droga  diga  a  ele  que  a  sensação  é  muito  boa,  mas  as 
consequências  são  infinitamente  piores  do  que  tudo  que  ele 
possa imaginar, pois dizer que é simplesmente ruim faz surgir 
na  cabeça  dos  mais  novos  a  seguinte  dúvida,  se  é  tão  ruim 
assim, como existem tantas pessoas utilizando? E quando há 
dúvidas na cabeça de um jovem, tenha certeza que irá surgir 
uma  imensa  vontade  de  saber  onde  está  a  verdade.  E 
adivinhem  como  ele  vai  querer  saber  a  verdade? 
Experimentando é claro. 

Muitos  usuários  de  drogas  hoje  em  dia  são  fruto  da 
curiosidade  despertada  em  razão  de  respostas  inadequadas. 
Não podemos minimizar as respostas com a finalidade de não 
querer  perder  tempo,  é  preciso  sentar  com  o  jovem  e 
esclarecer toda a verdade, sanar todas as dúvidas, mostrar a 
realidade daqueles que foram atraídos pelo efêmero prazer da 
primeira  vez,  (que  nunca  mais  se  repete).  Das  famílias 
destruídas,  dos  amigos  que  desaparecem  e  das  dores  que 
ficam. Mostre a história de todos os notáveis que foram embora 
em decorrência  do  vicio,  de  o  quão o  mundo  seria  melhor  e 
mais  bonito  se  eles estivessem  aqui.  Fale da  Janis,  de  Elvis, 
Elis,  Cobain,  fale  de  Cássia  e  Amy,  Apresente  a  beleza  de 
suas  artes  inacabadas.  Digam  que  não  há  dor  nenhuma  que 
justifique se destruir. Fale sobre Deus e luz, fale de amor, leia 
uma  poesia  de  Pablo  Neruda,  escute  um  disco  do  Cazuza, 
assista  A  vida  é  bela  de Benigni,  andem  juntos  na  chuva, 
contemple uma cachoeira, um por do sol, vejam fotos antigas, 
enfim, mostre que a vida é cheia de opções e beleza, e por fim
ouça a música Vinte e Nove do Renato.


Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)
Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão 
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.
Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)
(Vinte e Nove / Renato Russo)

Diga a quem pergunta que a vida é cheia de opções, que 
perder  um  emprego,  um  relacionamento  ou  mesmo  um  amor 
não é o fim de tudo. As fugas imediatas não são a saída, todo 
é qualquer problema sempre vai acordar com você. As drogas 
são  brutais  demais  com  nosso  frágil  corpo,  a  conta  é  muito 
cara, não vale a pena pagar pra ver.  A droga tira do homem, o 
que Deus lhe deu de mais importante, que é seu livre arbítrio, 
sua livre escola, seu poder de decisão, seu poder de avaliar o 
que  é  certo  ou  errado,  o  que  se  vai  ou  não  vai  fazer.  Um 
usuário  de  drogas vira um  passageiro  em  seu  próprio  corpo, 
perde a noção da moral, esquece seus bons modos, não sabe 
mais de seu costume.


Ter que se iludir ao se encontrar
Com mecanismos de uma bruta ilusão
E não sentir o que é real
O que é viver, o que é ser,
Se já não sente se ser
Drogado é ânsia de não ter querer
P'ra que fugir
Se os problemas
Sempre vão amanhecer com você
E não tem fim
Droga, de só querer usar mais drogas
Há tanta coisa p'ra saber,
São tantos rumos p'ra tomar, 
São tantas provas p'ra vencer,
Mas como se você
Em uma seringa precisar se esconder
P'ra não enfrentar,
A covardia sempre vai te perturbar
Vai acabar com você.
(Drogas / Joaquim Cezar)

Um  dia,  conversava  com  um  sábio  colega  do  meio 
religioso, e dizia ele acreditar que o fruto proibido (Que não é 
uma maça, e inclusive não sei de onde tiraram isso, pois em 
nenhum ponto das escrituras bíblicas se fala em maças) fosse 
algum  tipo  de  droga,  que  tivesse  o  poder  de  abalar  o  livre 
arbítrio dado pelo criador a sua criatura. Tanto é, que a história 
nos conta que ele se escondeu, sentiu vergonha. Mas como se 
esconder  de  Deus?  Sua  capacidade  de  entendimento  estava 
abalada por alguma coisa alucinógena, me dizia o velho amigo. 
Passei  acreditar  na  história  desse  amigo,  acho  mais 
convincente do que a história da maça.

Não crítico aqueles que fogem, apenas acho que não é a 
solução, não temos o direito e nem o poder de saber o quanto 
dói no coração de cada um, qual o limite. Ou quando vão dizer, 
aqui  já  não  dá  mais.  Essas  pessoas  não  precisam  de 
julgamento ou preconceito, precisam de Luz, de uma pequena 
claridade, no fundo do obscuro buraco que se encontram. De 
um pouco de esperança ou de um simples gesto de confiança. 
Não somos diferentes de ninguém, somos seres fracos e tristes 
por natureza, precisamos de ajuda.

Sei que não sou diferente ou melhor que ninguém, também 
estou tentando recuperar meus 29 amigos e ser saudado pelos 
meus 29 anjos. Que Deus me ajude.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O CAMINHO DO AMOR


Li  em  um  site  de  relacionamentos,  dentre  milhares  de
outras  coisas  imprestáveis  que  leio  por  lá,  um  texto  muito
interessante de Joaquim Cezar que fazia uma relação sobre a
paixão  que  me  chamou  bastante  a  atenção.  Dizia  ele  que
quando  as  pessoas  se apaixonam tudo  parece  ser  infindável
duradouro e permanente, o cérebro para de pensar nas coisas
ao redor e se concentra apenas em uma pessoa. Mas segundo
Joaquim, tudo isso não passa de um “sentimento transferencial
inconsciente” ou seja, a pessoa se apega naquilo que gostaria
que a pessoa fosse, e não pelo o que verdadeiramente é, (Um
bom  exemplo  de  que  isso  faz  sentido,  e  percebermos  que
quando  apaixonados,  não  conseguimos  perceber  defeitos  na
pessoa em questão).
Na verdade a pessoa se apaixona por uma projeção feita
por  ela  mesma.  Mas o  problema  não  está  ai,  o  problema  da
paixão ocorre quando há a quebra do espelho, ou seja, o fim
da ilusão, da fantasia, da utopia. Nesse período, dois caminhos
surgem:  o  primeiro  é  a  separação,  o  término  da  relação
juntamente com o final da ilusão, o outro caminho, seguido por
poucos,  é  a  “Aceitação  do  outro  em  sua  totalidade”  nasce
então, dos cacos do espelho da utopia, o fascínio por um ser
livre,  totalmente  independente  de  suas  expectativas,  que  lhe
surpreende  a  cada  dia,  que  é capaz  de  fazer  uma  surpresa
repentina, que  parece mais linda com os anos e mais forte a
cada  tempestade.  Que  lhe  faz  um  carinho  no  momento  mais
difícil e lhe perdoa aquilo que parecia ser imperdoável, que às
vezes suporta o insuportável, e depois da chuva de meteoros,
pelo  meio  das  cinzas  e  do  sangue  do  campo  de  batalha,
aparece ao seu lado, quando mais ninguém esperava. A esse
caminho dá-se o nome de amor.
A  paixão  é  previsível,  pois  é  invenção  dos  olhos  dos
homens,  é efêmera,  passageiro  e  transitório,  não dura para
sempre, foi feito para acabar logo. Mas o amor não parece ser
imprevisível, infinito e inabalável, foi feito pelas mãos de Deus.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A ÁRVORE DE FLORES AMARELAS


Sabe de uma coisa? As minhas coisas não valem pra você 
como valem pra mim, muito menos as suas valem pra mim o 
quanto  são grandiosas para  você.  Isso  é  uma conclusão  que 

tirei  de  anos  de  desavenças.  Até  perceber  que  os  olhos 
mensuram  as  coisas  de  maneira  diferente  e  briguei  muito. 
Antigamente  queria  que  todos  vissem  com  os  meus  olhos, 
como  não  consegui,  aprendi  que  cada  um  vê  com  seus 
próprios  olhos,  e  atribuem valores  as  coisas  de  acordo  com 
uma infinidade de variáveis, de sentimentos e acontecimentos. 
Certo dia fiquei alarmado, pois um homem tinha batido em sua 
mulher por que ela teria quebrado um pote (daqueles antigos, 
de guardar água), a principio fiquei atemorizado, achando mais 
um  dos  diversos  absurdos  que  costumo  presenciar  todos  os 
dias, os olhos de inocência e fragilidade da mulher me levaram 
a  quase  nem  querer  ouvir  a  versão  do  suposto  agressor. 
Quando  o  agressor  se  apresentou  e  começou  a  falar,  eu  já 
estava decidido de que ele era um canalha, que não merecia o 
mínimo  de  piedade.  Quando  começou  a  contar  a  história  do 
pote,  de  sua  infância,  de  sua  casinha de  barro  coberta  de 
pedaços de madeira, chão batido, do fogão a lenha, das vezes 
que ia ao igarapé buscar água, do terreiro grande rodeado de 
árvores que existia no local, do pequeno bosque atrás de sua 
casa,  onde  nunca  “batia  sol  forte”  onde  brincava  com  seus 
irmão e primos, do barulho de da bota de seu pai no caminho 
de  volta  pra  casa,  das  viagens  de  canoa  que  fazia  com  sua 
família, e que de tudo aquilo, que fiquei imaginando na minha 
cabeça como se estivesse simplesmente vendo tudo. E depois 
de  me  contar toda  a  história, olhou  pra  mim  com  os  olhos 
mareados e disse: sabe a única coisa que me tinha sobrado de 
tudo isso? O pote que ela quebrou.  
Barcelona
[ 124 ]
Tenho que admitir que não pudessem existir palavras que 
me  desmontassem  mais  do  que  aquelas  que  aquele  homem 
me disse. Depois disso a mulher se levantou de onde estava e 
os olhos que me pareciam de inocência no inicio, já eram olhos 
de demônio, a voz mansa e frágil agora era agressiva e cheia 
de  cólera.  Falava  ela  que  não  aguentava  aquela  porcaria 
daquele pote dentro de casa e que  ele era um idiota de ficar 
lembrando “pobrezas” do passado. No final de tudo ela acabou 
confessando  que  não  houve  agressão  alguma,  e  que  o 
machucado que apresentava era de estilhaços do pote que lhe 
atingiram, e que na verdade ficou com raiva, pois seu marido 
tinha ido embora de casa por causa de um “simples pote”.
Lembro-me  de  quando  ia  visitar  meus  primos  João  e 
Sócrates  (Na  verdade  o  nome  dele é  Nelson,  mas  todos  nós 
chamamos  assim)  mesmo  quando  fui  morar  lá,  na  mesma 
cidade. Brincávamos de um milhão de coisas no pátio sempre 
ventilado  da  casa  deles,  futebol,  basquete,  futebol  de  botão, 
bola de gude (aqui na minha região chamada de peteca), mas 
o  que  gostava  mesmo  era  de  brincar  em  baixo  da  árvore  de 
flores amarelas que ficava ao lado, até hoje o cheiro daquelas 
flores moram dentro de mim, lembro que juntávamos todas as 
flores que podíamos e fazíamos colares para nossas mães, de 
quando  subíamos  em  seus  galhos  e  prendíamos  cata-ventos 
coloridos com giz de cera e ficávamos a ver qual deles rodava 
mais  rápido,  ou  mesmo  quando  subíamos  para  pegar  a  bola 
que sempre ficava presa no telhado ao lado. Não sei dizer por 
que,  mas  sempre  que  lembrava  de  lá,  a  árvore  de  flores 
amarelas  vinha  na  minha  cabeça,  assim  como  seu  perfume 
também.  Só  sentia  que  tinha  chegado à  cidade  quando a 
avistava. Até que um dia cheguei e descobri que ela tinha sido 
cortada,  não  sei  se  foi  coincidência,  mas  depois  disso,  as 
coisas nunca mais foram às mesmas. Não sei quem a cortou, 
mas  sei  que  se  soubesse  o  quanto  era  importante  pra  mim, 
Barcelona
[ 125 ]
não teria feito isso, assim como eu acho que era importante pro 
João e pro Sócrates também. 
Lembrei-me da história da mulher que ficou anos sem falar 
com  o  marido  por  que  ele  cortou  algumas  plantas  de  seu 
jardim.  Mas  tudo isso ocorre,  pois não  sabemos  o  valor  que 
cada objeto representa para cada uma das pessoas ao nosso 
redor,  olhamos,  avaliamos  e  queremos  que  o  mundo  gire  de 
acordo  com  nossos  valores,  somente  eles.  Não  somos 
capazes de entender o preço sentimental que cada coisa tem 
para  determinada  pessoa.  É  certo  que  existem  pessoas  que 
não conseguem ver valor que não seja financeiro nas coisas, 
mas dessas pessoas eu prefiro não falar. Já briguei muito por 
coisas que enxergava com olhos diferentes, agora já não faço 
isso, sei que é perda de tempo. 
Sei que tem gente que nunca vai aprender a distinguir tais 
valores, vai querer ter suas coisas e sentimentos respeitados, 
mas  nunca  vai  respeitar  o  próximo,  tem  gente  que  nem 
descobriu ainda que os outros tem sentimento, não ligam, não 
se importam. Mas o mundo gira e o destino de pessoas rudes é 
que sua efêmera beleza (quando há) se vá, e a solidão fique, 
assim como a mulher que quebrou o pote, fiquei sabendo que 
tentou  desesperadamente  procurar  seu  ex-companheiro  que 
simplesmente não quis mais contato, alegando que cansou de 
suas  grosserias.  Dizem  alguns,  que  ela  o  humilhava 
frequentemente  e  dizia  que  ele  nunca  a  deixaria,  mas  o  pra 
sempre, sempre acaba, e o nunca, um dia acontece.
E quanto à árvore  de  flores  amarelas estou planejando 
plantar uma em frente a minha casa, para que eu possa sentir 
seu cheiro, para que meus filhos possam brincar em baixo dela 
como  eu  fiz  com  meus  primos,  quero  que  eles  tenham 
lembranças boas da infância assim como tenho. Que o coração 
Barcelona
[ 126 ]
deles fique  cheio  de  saudade  boa,  pois  em  coração  que  tem 
“saudade boa” não há lugar para mágoas.
Estou fazendo uma faxina no meu coração, quero cultivar, 
cada vez mais minhas lembranças de meninice, não vou deixar 
ninguém  atrapalhar  isso,  preciso  descartar  minhas  magoas, 
preencher o espaço delas para que não voltem mais. Qualquer 
dia desses vou ligar para meus primos, marcar um lugar para 
nos encontrarmos e lembramos dessas bons dias que vivemos.
************
Esse ano o Sócrates teve mais uma filhinha, seu nome é 
Diana,  nome  de  princesa. daqui  a  pouco  vai  se  formar  em 
medicina, vai ser o Drº Nelson Roberto. Mas no meu coração, 
ele vai ser o mesmo cara que brincava de futebol de Botão no 
chão  da  minha  casa,  o  João  vai  ser  Radiologista,  e  por 
enquanto ainda não casou, é o mesmo brincalhão de 18 anos 
atrás quando brincávamos de Master System na sua casa. Às 
vezes nos reunimos pra tocar. É sempre muito bom. Toda vez 
que fazemos isso, parece que é a primeira vez.


************
Mamãe leu o texto e plantou na frente casa da minha irmã 
Nathália hoje quem brica com suas flores é seu filhinho Arthur;