sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O CAMINHO DO AMOR


Li  em  um  site  de  relacionamentos,  dentre  milhares  de
outras  coisas  imprestáveis  que  leio  por  lá,  um  texto  muito
interessante de Joaquim Cezar que fazia uma relação sobre a
paixão  que  me  chamou  bastante  a  atenção.  Dizia  ele  que
quando  as  pessoas  se apaixonam tudo  parece  ser  infindável
duradouro e permanente, o cérebro para de pensar nas coisas
ao redor e se concentra apenas em uma pessoa. Mas segundo
Joaquim, tudo isso não passa de um “sentimento transferencial
inconsciente” ou seja, a pessoa se apega naquilo que gostaria
que a pessoa fosse, e não pelo o que verdadeiramente é, (Um
bom  exemplo  de  que  isso  faz  sentido,  e  percebermos  que
quando  apaixonados,  não  conseguimos  perceber  defeitos  na
pessoa em questão).
Na verdade a pessoa se apaixona por uma projeção feita
por  ela  mesma.  Mas o  problema  não  está  ai,  o  problema  da
paixão ocorre quando há a quebra do espelho, ou seja, o fim
da ilusão, da fantasia, da utopia. Nesse período, dois caminhos
surgem:  o  primeiro  é  a  separação,  o  término  da  relação
juntamente com o final da ilusão, o outro caminho, seguido por
poucos,  é  a  “Aceitação  do  outro  em  sua  totalidade”  nasce
então, dos cacos do espelho da utopia, o fascínio por um ser
livre,  totalmente  independente  de  suas  expectativas,  que  lhe
surpreende  a  cada  dia,  que  é capaz  de  fazer  uma  surpresa
repentina, que  parece mais linda com os anos e mais forte a
cada  tempestade.  Que  lhe  faz  um  carinho  no  momento  mais
difícil e lhe perdoa aquilo que parecia ser imperdoável, que às
vezes suporta o insuportável, e depois da chuva de meteoros,
pelo  meio  das  cinzas  e  do  sangue  do  campo  de  batalha,
aparece ao seu lado, quando mais ninguém esperava. A esse
caminho dá-se o nome de amor.
A  paixão  é  previsível,  pois  é  invenção  dos  olhos  dos
homens,  é efêmera,  passageiro  e  transitório,  não dura para
sempre, foi feito para acabar logo. Mas o amor não parece ser
imprevisível, infinito e inabalável, foi feito pelas mãos de Deus.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A ÁRVORE DE FLORES AMARELAS


Sabe de uma coisa? As minhas coisas não valem pra você 
como valem pra mim, muito menos as suas valem pra mim o 
quanto  são grandiosas para  você.  Isso  é  uma conclusão  que 

tirei  de  anos  de  desavenças.  Até  perceber  que  os  olhos 
mensuram  as  coisas  de  maneira  diferente  e  briguei  muito. 
Antigamente  queria  que  todos  vissem  com  os  meus  olhos, 
como  não  consegui,  aprendi  que  cada  um  vê  com  seus 
próprios  olhos,  e  atribuem valores  as  coisas  de  acordo  com 
uma infinidade de variáveis, de sentimentos e acontecimentos. 
Certo dia fiquei alarmado, pois um homem tinha batido em sua 
mulher por que ela teria quebrado um pote (daqueles antigos, 
de guardar água), a principio fiquei atemorizado, achando mais 
um  dos  diversos  absurdos  que  costumo  presenciar  todos  os 
dias, os olhos de inocência e fragilidade da mulher me levaram 
a  quase  nem  querer  ouvir  a  versão  do  suposto  agressor. 
Quando  o  agressor  se  apresentou  e  começou  a  falar,  eu  já 
estava decidido de que ele era um canalha, que não merecia o 
mínimo  de  piedade.  Quando  começou  a  contar  a  história  do 
pote,  de  sua  infância,  de  sua  casinha de  barro  coberta  de 
pedaços de madeira, chão batido, do fogão a lenha, das vezes 
que ia ao igarapé buscar água, do terreiro grande rodeado de 
árvores que existia no local, do pequeno bosque atrás de sua 
casa,  onde  nunca  “batia  sol  forte”  onde  brincava  com  seus 
irmão e primos, do barulho de da bota de seu pai no caminho 
de  volta  pra  casa,  das  viagens  de  canoa  que  fazia  com  sua 
família, e que de tudo aquilo, que fiquei imaginando na minha 
cabeça como se estivesse simplesmente vendo tudo. E depois 
de  me  contar toda  a  história, olhou  pra  mim  com  os  olhos 
mareados e disse: sabe a única coisa que me tinha sobrado de 
tudo isso? O pote que ela quebrou.  
Barcelona
[ 124 ]
Tenho que admitir que não pudessem existir palavras que 
me  desmontassem  mais  do  que  aquelas  que  aquele  homem 
me disse. Depois disso a mulher se levantou de onde estava e 
os olhos que me pareciam de inocência no inicio, já eram olhos 
de demônio, a voz mansa e frágil agora era agressiva e cheia 
de  cólera.  Falava  ela  que  não  aguentava  aquela  porcaria 
daquele pote dentro de casa e que  ele era um idiota de ficar 
lembrando “pobrezas” do passado. No final de tudo ela acabou 
confessando  que  não  houve  agressão  alguma,  e  que  o 
machucado que apresentava era de estilhaços do pote que lhe 
atingiram, e que na verdade ficou com raiva, pois seu marido 
tinha ido embora de casa por causa de um “simples pote”.
Lembro-me  de  quando  ia  visitar  meus  primos  João  e 
Sócrates  (Na  verdade  o  nome  dele é  Nelson,  mas  todos  nós 
chamamos  assim)  mesmo  quando  fui  morar  lá,  na  mesma 
cidade. Brincávamos de um milhão de coisas no pátio sempre 
ventilado  da  casa  deles,  futebol,  basquete,  futebol  de  botão, 
bola de gude (aqui na minha região chamada de peteca), mas 
o  que  gostava  mesmo  era  de  brincar  em  baixo  da  árvore  de 
flores amarelas que ficava ao lado, até hoje o cheiro daquelas 
flores moram dentro de mim, lembro que juntávamos todas as 
flores que podíamos e fazíamos colares para nossas mães, de 
quando  subíamos  em  seus  galhos  e  prendíamos  cata-ventos 
coloridos com giz de cera e ficávamos a ver qual deles rodava 
mais  rápido,  ou  mesmo  quando  subíamos  para  pegar  a  bola 
que sempre ficava presa no telhado ao lado. Não sei dizer por 
que,  mas  sempre  que  lembrava  de  lá,  a  árvore  de  flores 
amarelas  vinha  na  minha  cabeça,  assim  como  seu  perfume 
também.  Só  sentia  que  tinha  chegado à  cidade  quando a 
avistava. Até que um dia cheguei e descobri que ela tinha sido 
cortada,  não  sei  se  foi  coincidência,  mas  depois  disso,  as 
coisas nunca mais foram às mesmas. Não sei quem a cortou, 
mas  sei  que  se  soubesse  o  quanto  era  importante  pra  mim, 
Barcelona
[ 125 ]
não teria feito isso, assim como eu acho que era importante pro 
João e pro Sócrates também. 
Lembrei-me da história da mulher que ficou anos sem falar 
com  o  marido  por  que  ele  cortou  algumas  plantas  de  seu 
jardim.  Mas  tudo isso ocorre,  pois não  sabemos  o  valor  que 
cada objeto representa para cada uma das pessoas ao nosso 
redor,  olhamos,  avaliamos  e  queremos  que  o  mundo  gire  de 
acordo  com  nossos  valores,  somente  eles.  Não  somos 
capazes de entender o preço sentimental que cada coisa tem 
para  determinada  pessoa.  É  certo  que  existem  pessoas  que 
não conseguem ver valor que não seja financeiro nas coisas, 
mas dessas pessoas eu prefiro não falar. Já briguei muito por 
coisas que enxergava com olhos diferentes, agora já não faço 
isso, sei que é perda de tempo. 
Sei que tem gente que nunca vai aprender a distinguir tais 
valores, vai querer ter suas coisas e sentimentos respeitados, 
mas  nunca  vai  respeitar  o  próximo,  tem  gente  que  nem 
descobriu ainda que os outros tem sentimento, não ligam, não 
se importam. Mas o mundo gira e o destino de pessoas rudes é 
que sua efêmera beleza (quando há) se vá, e a solidão fique, 
assim como a mulher que quebrou o pote, fiquei sabendo que 
tentou  desesperadamente  procurar  seu  ex-companheiro  que 
simplesmente não quis mais contato, alegando que cansou de 
suas  grosserias.  Dizem  alguns,  que  ela  o  humilhava 
frequentemente  e  dizia  que  ele  nunca  a  deixaria,  mas  o  pra 
sempre, sempre acaba, e o nunca, um dia acontece.
E quanto à árvore  de  flores  amarelas estou planejando 
plantar uma em frente a minha casa, para que eu possa sentir 
seu cheiro, para que meus filhos possam brincar em baixo dela 
como  eu  fiz  com  meus  primos,  quero  que  eles  tenham 
lembranças boas da infância assim como tenho. Que o coração 
Barcelona
[ 126 ]
deles fique  cheio  de  saudade  boa,  pois  em  coração  que  tem 
“saudade boa” não há lugar para mágoas.
Estou fazendo uma faxina no meu coração, quero cultivar, 
cada vez mais minhas lembranças de meninice, não vou deixar 
ninguém  atrapalhar  isso,  preciso  descartar  minhas  magoas, 
preencher o espaço delas para que não voltem mais. Qualquer 
dia desses vou ligar para meus primos, marcar um lugar para 
nos encontrarmos e lembramos dessas bons dias que vivemos.
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Esse ano o Sócrates teve mais uma filhinha, seu nome é 
Diana,  nome  de  princesa. daqui  a  pouco  vai  se  formar  em 
medicina, vai ser o Drº Nelson Roberto. Mas no meu coração, 
ele vai ser o mesmo cara que brincava de futebol de Botão no 
chão  da  minha  casa,  o  João  vai  ser  Radiologista,  e  por 
enquanto ainda não casou, é o mesmo brincalhão de 18 anos 
atrás quando brincávamos de Master System na sua casa. Às 
vezes nos reunimos pra tocar. É sempre muito bom. Toda vez 
que fazemos isso, parece que é a primeira vez.


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Mamãe leu o texto e plantou na frente casa da minha irmã 
Nathália hoje quem brica com suas flores é seu filhinho Arthur;