De uns tempos para cá, estou
sentindo que algo de diferente aconteceu, não sei bem dizer o que foi, mas a
atmosfera esta diferente. Como se de uma hora para outra eu acorda-se e me
deparasse anos a frente, lembrei me do filme De repente 30 (13
Going On 30, EUA 2004) que a moça dorme aos 13 e acorda
aos 30, como se esse intervalo não tivesse existido, apesar de ter.
Acabamos por não notar as coisas,
pois estamos no processo diário, assim como quando você demora algum tempo para
ver aquele priminho e diz: “Nossa como cresceu”. Talvez quem conviva com ele
não consiga notar, mas sua historia com ele ficou parada na última foto que
seus olhos tiraram dele, do último dia que você o viu, assim quando comparada
com a realidade atual, há um choque, uma mudança brusca de idéia que você tinha
dele.
Assim eu, como acontece com os
priminhos distantes, acordei edeparei-me com uma realidade diferente, meio estranha, como
se eu tivesse, de repente, deixado muitas coisas em definitivo pra trás. Muitas
concepções, certezas, esperanças e sonhos.
Não falei isso pra ninguém, pois viriam com a
resposta pronta de que era a crise dos 30, e como, junto com essas coisas que
mencionei, minha paciência também foi embora, resolvi calar-me, deixei essa
“coisa estranha” meio que domesticada dentro de mim, não dava muito ouvidos nem
importância a essa sensação, estava tudo sobre controle, até que em um dia de
fragilidade, fui surpreendido, inesperadamente, pela seguinte estrofe na triste
voz do Renato;
Mudaram as estações,
Nada mudou.
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu,
Esta tudo assim, tão diferente.
(Por Enquanto Renato Russo)
Então todo meu equilíbrio desmoronou,
comecei a me inquietar, mas me inquietar, não sofrer. Algo como um suave
desespero, não era como antigamente, o desespero descontrolado que sentia, a
dor insuportável e a tristeza absoluta, tudo tinha se transformado em “suave
desespero”, uma dor fininha, uma
nostalgia pequena, uma melancolia acanhada.
Percebi então que algo muito
surpreendente tinha ocorrido, meu corpo tinha desisto de lutar contra o que lhe
afligia e simplesmente tinha se conformado com a situação, minha relutância de
admitir que muitas coisas eu perdi tinha acabado, de que eu não era tão forte e
muito menos tão esperto como imaginava. Tinha vislumbrado, enfim o mundo de
cima e me visto como um grão de areia por baixo de muitos outros, o fim de um
longo ciclo de egocentrismo que se desprendeu de mim.
O sociólogo Peter Berger, sintetiza muito bem meu estado
atual:
“A maturidade é um
estado da mente que se acomodou, que esta em paz com as coisas do jeito como
elas são, que abandonou os sonhos mais loucos de aventura e realização. Não é
difícil perceber que essa noção de maturidade é funcional na medida em que ela
dá ao individuo uma racionalização por ter escolhido os seus horizontes.”
Assim então percebi que meus
sonhos e desejos também já não eram os mesmos, não chegaram a morrer, mas foram
transferidos, em minha mente, para o lugar das coisas que nunca vão
acontecer,nunca vão chegar ou se realizar. Esses sonhos já não estão mais
coloridos como antigamente, estão em preto e branco, mas isso não me causou raiva,
mas sim, o “suave desespero” que já citei, e que agora já é companheiro
constante.
Havia um tempo em que eu vivia
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu
Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar
Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia
Agora eu vejo,
Aquele beijo era o fim,
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
(A Cruz e a espada Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)
Um sentimento quase infantil
Havia o medo e a timidez
Todo um lado que você nunca viu
Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E agora eu ando correndo tanto
Procurando aquele novo lugar
Aquela festa o que me resta
Encontrar alguém legal pra ficar
Agora eu vejo,
Aquele beijo era mesmo o fim
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
E agora é tarde, acordo tarde
Do meu lado alguém que eu não conhecia
Outra criança adulterada
Pelos anos que a pintura escondia
Agora eu vejo,
Aquele beijo era o fim,
Era o começo
E o meu desejo se perdeu de mim
(A Cruz e a espada Paulo Ricardo / Luiz Schiavon)
Acho que agora eu cresci de vez,
meu sentimento infantil já quase não percebo mais, já não vou mais mudar o
mundo e nem reconquistar o que eu perdi de valor pelas frestas dos anos, muito
menos vou mudar a cabeça de algumas pessoas, essas coisas já não vão me
perturbar tanto como antes, a serenidade dos anos acomodou-se sobre meus ombros
e por fim me fez entender e chegar à conclusão de que existem muitas coisas que
se despedaçaram de vez, muitas coisas se perderam e nunca mais vão voltar, que
aquele beijo, aquele abraço aquele adeus, foram os últimos, e eu tenho que
aceitar isso, mesmo que me traga uma dor fininha de saudade, La no fundo do
coração, eu tenho que aceitar, tenho que aceitar que o convívio com algumas
pessoas, nunca mais vai ser como antigamente, pois talvez ela tenha tomado um
caminho diferente do meu e que vai marcá-la e afastá-la eternamente de mim, só
vai me sobrar as belas lembranças e nada mais, assim também como tenho de
aceitar que não vou mudar o sentimento
de ninguém em relação a mim e nem conseguirei gostar daquilo que não gosto como
em um passe de mágicas.
Estava sentindo essa situação um
pouco estranha, ate que lembrei deum lindo texto de William Shakespeare chamado
“Aprendi”
“ Aprendi que eu
não posso exigir o amor de ninguém.
Posso apenas dar
boas razões para que gostem de mim e Ter paciência, para que a vida faça o
resto.
Aprendi que não
importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá
a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.
Aprendi que posso
passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos.
Que posso usar o meu
charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.
Eu aprendi...Que
posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida.
Que por mais que
se corte uma pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale
para tudo o que cortamos em nosso caminho.
Aprendi... Que vai
demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter
paciência.
Mas, aprendi
também que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.
Aprendi que preciso
escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles.
Que os heróis são
pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento,
independentemente do medo que sente.
Aprendi que
perdoar exige muita prática.
Que há muita gente
que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.
Aprendi... Que nos
momentos mais difíceis, a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava
que iria tentar piorar as coisas.
Aprendi que posso
ficar furioso, tenho o direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser
cruel.
Que jamais posso
dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia
para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.
Eu aprendi que meu
melhor amigo vai me machucar de vez em quando, e que eu tenho que me acostumar
com isso.
Que não é o
bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro.
Aprendi que, não
importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa
disso.
Eu aprendi... Que
as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não
pelas escolhas que eu faço quando adulto;
Aprendi que numa
briga preciso escolher de que lado eu estou, mesmo quando não quero me
envolver.
Que, quando duas
pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não
discutem não significa que elas se amem.
Aprendi que por
mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também.
Isso faz parte da vida.
Aprendi que a
minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente
que eu nunca vi antes.
Aprendi também que
diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.
Aprendi que as
palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério.
E que amigos não
são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.
Aprendi que certas
pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos
retê-las para sempre.
Aprendi, afinal,
que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber
lutar pelas coisas em que acredito.”
(Aprendi William
Shakespeare)
Na verdade se pararmos pra
pensar, não acordei de uma hora pra outra, eu estava maquiando o tempo, a
pintura escondia os anos que passavam e que eu não queria aceitar o que o mundo
tinha me oferecido, o que a historia tinha contado e o que o destino tinha
decidido, o importante mesmo é aprender a conviver, sentir menos dor, e
aproveitar o que de bom há em cada coisa, e por mais que as pessoas tentem nos
machucar e magoar, sempre existe um jeito de minimizar isso, e melhor, sempre
existe um jeito de aprender com isso, os aprendizados de cada dia nos fazem
homens e mulheres melhores,. É necessário, assim como Shakespeare, criamos uma
lista de tudo que aprendemos, para não corrermos o risco de fazer o que erramos de novo. Mas
para isso, é preciso, aprender primeiro, a aceitar e admitir nossos erros, só
assim tiraremos alguma lição, e foi isso exatamente que comecei a fazer agora,
espero que meu coração sofra menos para que eu possa fazer minha lista de
coisas que vou aprender daqui pra frente, espero que quando alguma saudade de
algo que eu perdi bater, que não doa muito, ou de algo que já esperei, não seja
forte ou tão intensa, mas que também ainda possa sentir e lembrar, mesmo que um
pouquinho das coisas que me fizeram felizes um dia, que Deus more nas minhas
ausências, pois sei que alguma coisa se perdeu de mim.