domingo, 7 de junho de 2009

A MINHA TV ESTRAGOU


Sinceramente estou perplexo com o grau de desumanidade que chagamos, com toda essa impessoalidade que estamos vivendo, há algumas semanas vi uma coisa simplesmente inacreditável, trocaram as mães no hospital e ninguém percebeu, lhes entregaram as mães erradas e suas filhas as levaram pra casa, sem questionar; meu pobre e limitado entendimento não consegue processar isso, simplesmente não da pra entender. Isso reforça minha tese de que as pessoas não estão olhando nos olhos uma das outras, ninguém consegue mais se encarar hoje em dia, simplesmente não se veem. Um exemplo disso é que as famílias só conseguem conversar quando falta energia elétrica, quando falta luz, nós somos mais nós, percebi isso, pois aqui temos quase sempre o privilegio de ficarmos sem energia, meus filhos adoram, pois ficamos todos juntos sem o compromisso de ficarmos calados assistindo a novela das 8. O problema é o excesso de televisão que estamos assistindo, duvido muito que essas filhas que trocaram suas mães conhecem bem o rosto da Maia da novela, as pessoas acabam por se tornar mais intimas dos artistas da televisão do que sua família.
Digam o que disserem, mas pra mim a televisão é a maior maquina de burrificação e alienação em massa do mundo. Todo mundo é burrificado em todo lugar ao mesmo tempo. Tudo é tão previsível que chego a me perguntar como pode fazer tanto sucesso?
Mas que coisa, façamos coisa melhor, vamos ficar mais com nossos filhos, olhar mais no rosto um do outro, tudo isso me fez lembrar um texto do Luiz Fernando Veríssimo chamado estragou a televisão.

-- Iiiih...
-- E agora?
-- Vamos ter que conversar.
-- Vamos ter que o quê?
-- Conversar. É quando um fala com o outro.
-- Fala o quê?
-- Qualquer coisa. Bobagem.
-- Perder tempo com bobagem?
-- E a televisão, o que é?
-- Sim, mas aí é a bobagem dos outros. A gente só assiste. Um falar com o outro, assim, ao vivo... Sei não...
-- Vamos ter que improvisar nossa própria bobagem.
-- Então começa você.
-- Gostei do seu cabelo assim.
-- Ele está assim há meses, Eduardo. Você é que não tinha...
-- Geraldo.
-- Hein?
-- Geraldo. Meu nome não é Eduardo, é Geraldo.
-- Desde quando?
-- Desde o batismo.
-- Espera um pouquinho. O homem com quem eu casei se chamava Eduardo.
-- Eu me chamo Geraldo, Maria Ester.
-- Geraldo Maria Ester?!
-- Não, só Geraldo. Maria Ester é o seu nome.
-- Não é não.
-- Como, não é não?
-- Meu nome é Valdusa.
-- Você enlouqueceu, Maria Ester?
-- Pelo amor de Deus, Eduardo...
-- Geraldo.
-- Pelo amor de Deus, meu nome sempre foi Valdusa. Dusinha, você não se lembra?
-- Eu nunca conheci nenhuma Valdusa. Como é que eu posso estar casado com uma mulher que eu nunca... Espera. Valdusa. Não era a mulher do, do... Um de bigode...
-- Eduardo.
-- Eduardo!
-- Exatamente. Eduardo. Você.
-- Meu nome é Geraldo, Maria Ester.
-- Valdusa. E, pensando bem, que fim levou o seu bigode?
-- Eu nunca usei bigode!
-- Você é que está querendo me enlouquecer, Eduardo.
-- Calma. Vamos com calma.
-- Se isso for alguma brincadeira sua...
-- Um de nós está maluco. Isso é certo.
-- Vamos recapitular. Quando foi que casamos?
-- Foi no dia, no dia...
-- Arrá! Tá aí. Você sempre esqueceu o dia do nosso casamento... Prova de que você é o Eduardo e a maluca não sou eu.
-- E o bigode? Como é que você explica o bigode?
-- Fácil. Você raspou.
-- Eu nunca tive bigode, Maria Ester!
-- Valdusa!
-- Tá bom. Calma. Vamos tentar ser racionais. Digamos que o seu nome seja mesmo Valdusa. Você conhece alguma Maria Ester?
-- Deixa eu pensar. Maria Ester... Nós não tivemos uma vizinha chamada Maria Ester?
-- A única vizinha de que eu me lembro é a tal de Valdusa.
-- Maria Ester. Claro. Agora me lembrei. E o nome do marido dela era... Jesus!
-- O marido se chamava Jesus?
-- Não. O marido se chamava Geraldo.
-- Geraldo...
-- É.
-- Era eu. Ainda sou eu.
-- Parece...
-- Como foi que isso aconteceu?
-- As casas geminadas, lembra?
-- A rotina de todos os dias...
-- Marido chega em casa cansado, marido e mulher mal se olham...
-- Um dia marido cansado erra de porta, mulher nem nota...
-- Há quanto tempo vocês se mudaram daqui?
-- Nós nunca nos mudamos. Você e o Eduardo é que se mudaram.
-- Eu e o Eduardo, não. A Maria Ester e o Eduardo.
-- É mesmo...
-- Será que eles já se deram conta?
-- Só se a televisão deles também quebrou.

A TV anda ditando tudo que devemos gostar, as roupas que devemos usar e principalmente em quem vamos votar, funciona tipo mensagem subliminar sabe? Ficam dizendo o tempo todo Lula Lula Lula.... e você acaba por votar no Lula, sem nem mesmo se perguntar, porque se for se perguntar ninguém vai votar no Lula, toda mente sã, que pare 10 minutos pra refletir não faz essa bobagem, mas a TV não deixa, não da tempo pra refletir, os papeis se inverteram, não temos mais o controle remoto da televisão e sim a televisão tem o controle remoto de nossas vidas, muda de canal quando quer, faz o que quer. Acabamos por nos acostumar com as musicas de abertura das novelas, mesmo que se ache estranho a principio a repetição faz com que nós nos adeqüemos e ate mesmo acabamos por gostar de algo que nos incomodava a principio.

Sem TV Eu Te Enxergo Muito Mais

A minha TV estragou
E agora o que eu vou fazer se não sei nem falar com você?
Se não sei nem mais o que dizer
Como posso pensar sem TV? Já não sei mais olhar pra você
E de frente não consigo nem me ver
A minha TV estragou
E agora o que vou comprar?
Qual a roupa que eu posso usar?
Como é que eu vou poder votar?
Qual a onda que eu vou tirar?
Como é que vou poder viver?
Se nunca aprendi a sonhar sem olhar pra TV...
Sem TV a gente pode conversar
Sem TV eu te vejo, eu existo
E não existem marcas, nem modelos, nem receios, ilusões e medos
Sem TV a nossa vida não é novela
Sem TV eu te enxergo muito mais
A minha TV estragou
De repente vi tudo mudar
Pois existe um mundo ao redor
Que não conseguia enxergar
Sempre olhava para a TV e idealizava você
Mas você é o inverso da imagem da TV.
Kim.

Os papeis se inverteram, o que era bonito ficou feio e o que era feio ficou bonito, parece que foi isso que aconteceu, era ridiculo virou moda é o que era moda ficou ridiculo, não é uma questão de evolução, estamos regredindo mesmo, a cultura brasileira está arruinada, estamos resumidos simplesmente a cultura da bunda, não precisa de mais nada. Pra você cantar o pré- requisito é que você tenha a voz bem feia, assim como o do cara que canta o creeeeeu. Tudo parece que se perdeu, cada dia eu sinto mais falta da decada de 80, acho que a alienação era menor. Tudo se resume bem na tirinha que coloquei no inicio do texto, as aberrações tornaran-se cult.
Mas pra quem esquece da cara da mãe gostar de funk e fichinha, mas o problema não é esse, o problema é: adivinha pra quem vai votar a mulher que não conhecia a mãe? pro Lula com certeza.

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