terça-feira, 18 de outubro de 2016

O AMOR DE ONTEM (PARTE II)


Criam-se alguns padrões incompreensíveis na sociedade,porém,  mais  incompreensíveis  ainda,  são  as  pessoas  que  os seguem sem ao menos questionar por que os seguem. Ando  assistindo  a novela  das  9,  que  dentre  muitas bobagens  retrata  a  história  de  um  casal que  se  separa,  e  a partir  disso  começam  a  se  odiar  e  brigar  constantemente inclusive com alienação parental fato horrível que um dia eu comento com vocês). Sei que se trata de uma obra de ficção,
mas na verdade corresponde a história de vida de milhares de casais.

Separação não está necessariamente ligada a ódio; certo que haja rancor e magoas; mas ódio não é necessariamente a palavra  que  deva  andar  em  conjunto  com  a  separação. Existem  histórias que  terminam  sem  ódio,  mas  são  históriasque  tem  como  protagonistas  pessoas  com  um grau  de maturidade de vida elevado, pessoas que conseguem perceber que  em  uma  união existem  diversas  coisas  a  se  ponderar,  a levar em consideração. Existem muitos casais que se separam ainda se amando por exemplo.

Os radicais dizem que a separação não deve existir, pois Deus estabeleceu que o casal deve permanecer junto até que a  morte  os  separe.  Mas  a  morte  de  quê?  Talvez  a  morte  da
compreensão,  da  Cumplicidade  ou  mesmo  da  confiança.  Ou mesmo,  quem  sabe,  Deus tenha se  referido  à  morte  da personalidade  de  quem  se  amou,  sim,  muitas  pessoas resolvem mudar,  e não  é  obrigação  do  seu  par  amar  a  nova pessoa  que  ela  se  tornou.  Mas  não amar  certa  pessoa,  não significa odiar, querer o mal, repudiar, ou querer  arrancar por força  de sua  memória  os  dias  de  convivência  bons  que passaram.

A  separação  não  significa  que  o  casamento  não  tenha dado  certo.  Ele  deu  sim,  deu  pelo tempo  que  durou,  os  dias bons,  os  momentos  felizes  e  especiais  não  devem  ser esquecidos. Tentar  apagar  isso.  É mutilar  uma  parte  de  sua memória. Mesmo  que  o  rompimento  se  dê por  algo  imperdoável (Sim,  há coisas imperdoáveis no mundo),  o fim da união não deve  ser sinônimo  do  ódio,  da  raiva  e  da  aversão.  É extremamente  necessário  que  se  cultive  na mente  os momentos  bons,  as  lembranças  de  festa, mesmo  porque, quase  todas  as  uniões  se desfazem  por  causa  de  um “equívoco imperdoável”; a separação ocorre quando ainda há amor, pois  tais  equívocos  são  tão  repentinos,  que  o  amor permanece inabalável, e muitas vezes se mostra maior do que o imaginado. A sensação de perda, Da à amplitude exata de o quanto certo alguém é importante e indispensável em sua vida. Ainda  assim,  quase  sempre  a  separação  é  a única  saída quando  se  trata  de  situações  imperdoáveis,  pois  mesmo havendo  amor,  a  mágoa gerada  por  tal  acontecimento  acaba por tornar a união algo insuportável. Então  porque  destruir a  quem  ainda  se  ama?  Por  que  a sociedade  diz  que  deve  ser  assim? Não  acho  que  seja umaboa justificativa.

Dizem  que  nosso  coração  é  bobo,  mas  não é. Ele  sabe ponderar as coisas. Um erro não apaga anos de alegria, dias de felicidades, fotos de aniversário, férias de verão, banhos dechuva e abraços apertados. Nosso coração não é injusto comoqueríamos que fosse. Por isso ele faz com que continuamos aamar  as  pessoas  que  nos  machucaram.  Isso  é  quase  que universal, mas sublime mesmo é admitir tudo isso sem culpa, é fazer  diferente,  é  não  ficar  ouvindo fofoquinhas para  se convencer de que seu par realmente “Não Prestava”, ou falar para  todos  que  não  quer ver  a  pessoa  de  maneira  nenhum, enquanto  seu  coração  está  em  desespero  para  enxergá-la
mesmo  que  de  longe,  sentir,  mesmo  que  lá  no  fundo  seu cheiro, ou ouvir de seus lábios, pelo menos, um “oi”.

É  sublime  admitir  que  ainda  gosta,  sentir  saudades  sem culpa,  relembrar  bons  momentos, remexer  fotos  antigas,  tirar aquela  roupa  do  fundo  do  guarda  roupa  e  sentir  seu  cheiro.
Ouvir um disco antigo ou ir a um lugar que sempre iam. Fazer isso não é demérito nenhum, é sim valorizar as coisas que lhe fizeram bem. Em vez de valorizar somente o que te fez mal.


Eu não me perdi
e mesmo assim você me abandonou
Você quis partir
e agora estou sozinho
Mas vou me acostumar
com o silêncio em casa
com um prato só na mesa

Eu não me perdi
o Sândalo perfuma o machado que o feriu
Adeus, adeus, adeus meu grande amor

E tanto faz
de tudo o que ficou 
guardo um retrato teu
E a saudade mais bonita

Eu não me perdi
e mesmo assim ninguém me perdoou
Pobre coração -quando o teu estava comigo era tão bom.

Não sei por que acontece assim e é sem querer
O que não era pra ser:
Vou fugir dessa dor.
Meu amor, se quiseres voltar -volta não
Porque me quebraste em mil pedaços.
Renato Russo

A música acima (Que por sinal eu acho uma das maislindas do mundo) sintetiza muito bem a ideia central do texto,fala  de  uma relação  que  se  acabou,  mesmo havendo  amor ainda. Fala de alguém que guarda um retrato com “A saudade mais  bonita”.  Deixa  transparecer  uma maturidade  e  equilíbrio imenso  quando  cita,  por  exemplo, que “O  sândalo  perfuma  o
machado  que  o  feriu”,  ou  seja,  posso  amar  alguém  que  me machucou  sem  problema,  ou mesmo  quando  admite  sua saudade em “pobre coração, quando o teu estava comigo era tão bom”. O que foi bom, nada nem nenhuma circunstância vai mudar. Por mais que sua “razão” queira. É impossível apagar da  mente  momentos  felizes,  ou  mesmo  negá-los  em  seu coração.

Existem coisas que não dão para entender, e muito menos conseguimos  explicar,  tentar  ficar imaginando  porque  certo alguém nos fez algo é muito doloroso, não vale a pena, assim como não vale perder tempo tentando convencer os outros que deixou  de  amar  alguém sem  de fato  ter deixado.  Precisamos de  menos  teatro  e  mais  sensatez, menos  encenação  e  mais bom senso.

É preciso que se tenha serenidade para relembrar os bons momentos sem reviver magoas, e de saber que nem mesmo  o  amor  sozinho,  é  capaz  de  manter  duas  pessoas juntas. Mas acima de tudo é preciso aprender com a vida e saber discernir  o  tempo  das  coisas,  dizer  não  quando necessário. Dizer eu te Amo sim, mas não volte, pois você me quebrou em mil pedaços...

2 comentários:

Nilda Figueiredo de Oliveira disse...

...Que seja eterno, enquanto dure...

Unknown disse...

Meu grande amigo poeta!
Lindo, Paulinho... muito lindo!