terça-feira, 18 de maio de 2010

O diário do Menininho


Em uma galáxia distante, milhares de anos luz daqui, existia um menininho muito feliz, mas o tempo começou a lhe ensinar a ser triste, então ele passou o resto de seus dias pensando em voltar aos dias antigos, mas isso não é possível, então o menininho vivia como dava, mesmo chateado com muitas coisas, a pobreza, a fome das pessoas, a maldade, tudo isso o maltratava muito, parece que ninguém mais sentia a seu redor, mas pra ele , parece que tudo doía mais, as vezes as coisas já não valiam mais a pena, mas era preciso continuar, seus gostos e excentricidades e sua “chatice“ afastaram quase todo mundo, então ele se sentiu sozinho, a compreensão dos outros era cada dia mais distante, ele odiava os bajuladores, não aceitava falsos elogios, pois seu ego não precisava disso, sabia exatamente o que era e onde poderia chegar, sua compreensão do mundo talvez tenha se tornado tão grande que grande parte das pessoas, do seu mundo, perderam a relevância, ele via por dentro das capas as reais intenções, sentia o coração sombrio das pessoas, via através dos olhos. Poucas pessoas realmente lhe decepcionaram, pois de poucas pessoas ele esperou alguma coisa, de poucas pessoas ele não conseguiu ver a realidade. Mas essas poucas pessoas quase o mataram, ou quem sabe o mataram, pois delas, ele esperou tudo que não esperara das outras.
O menininho aprendeu a amar e desamar com a mesma pessoa, a acreditar e desacreditar, a ser feliz e triste, o menininho se arrependeu dos seus caminhos, dos amigos que não fez, dos sentimentos que não cultivou, das próprias mentiras que contou, o menininho escreveu dezenas de canções e as cantou um milhão de vezes, mas poucos entenderam o que ele queria dizer, falou de um milhão de amores mas ninguém os achou, ou quem sabe tenha falado um milhão de vezes do mesmo amor que nunca existiu. O menininho é tão vazio, que de noite, chega a doer, uma saudade de alguém que nunca esteve, que ele não conhece, então disseram que ele estava doente, que deveria tomar remédio antivazio, ou antisaudade ou antitristeza, como se existisse remédio pra tal.
Um dia desses o menininho ouviu Janaina do Biquine Cavadão e se achou igual à Janaina, pensou então que falavam dele.

Janaina acorda todo dia às quatro e meia
E já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu
Janaina é passageira
Passa as horas do seu dia em trens lotados
Filas de supermercados, bancos e repartições
Que repartem sua vida

Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se Deus quiser.....

Janaina é beleza de gestos, abraços,
Mãos, dedos, anéis e labios
Dentes e sorriso solto
Que escapam do seu rosto

Janaina é só lembrança de amores guardados
Hoje é apenas mais uma pessoa
Que tem medo do futuro- que aconteceu ? -
Se alimenta do passado

Mas ela diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Mas ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Diz
Que apesar de tudo ela tem sonhos
Ela diz
Que um dia a gente há de ser feliz
Se Deus quiser.....
Já não imagina
Quantos anos tem
Já na iminência
De outro aniversário
Janaina acorda todo dia às quatro e meia
Já na hora de ir pra cama, janaina pensa
Que o dia não passou
Que nada aconteceu.


Assim como janaina ele tambem tem sonhos, ninguem os sabe, mas ele tem, ele não é de sonhar tanto, mas de vez enquando ele se pega fazendo planos. Não curte mais seus aniversários como antigamente. Sua distância do cotidiano “normal”, do caminho das pedras da sociedade, resultaram em muitas histórias, dizem que ele é mistérioso, que não acredita mais em Deus, mas 90% é lenda, e de lenda em lenda ele vai vivendo, O deus que ele não acredita mais é aquele que falsos profetas lhe venderam anos trás, o menininho não acredita mais que Deus seja propriedade de alguma religião ou que esteja apenas na gaiola de alguns, o menininho vè um Deus maior, que mora em algum lugar na imensidão, mas a imensidão é tão grande que as vezes o perdemos e de vez enquando o encontramos, é assim.
Um dia desses ele resolveu escrever um pequeno diario, esse diario se tornou grande demais, ele ja não conseguia carregar sozinho, descobriu então que seu “caderninho” amenizava a falta que lhe doia, então escreveu um milhão de letrinhas e sentiu-se um milhão de vezes melhor, despertou dez mil olhos e acordou mil anjos ao seu redor, com isso espera viver 10 vezes mais que antes e 100 vezes maior que outrora.
Que ninguem duvide do menininho, ele vai recuperar suas amizades perdidas, seus amores esquecidos, seu passado feliz, o menininho vai subir as estrelas e acender a lua do seu amor, o menininho vai levantar mais forte do que nunca, pois o menininho apesar de menininho é muito grande, ja não cabe dentro de si com facilidade, seus desagravos serão grãos de areia em relação sua grandesa.
La vai ele, escrever as metaforas do seu dia em seu caderninho que vai ser livro, la vai ele, escrever suas poesias de tristezas e aborrecimentos, la vai o menininho, deixem-o em paz, fale baixo não o encomode, ele é assim mesmo, la vai o menininho, mas pode esperar, ele volta, sempre ele volta.

2 comentários:

Anônimo disse...

É impressionante os textos que vc escreve e a forma como me idêntifico com eles , parecem tanto comigo, acho que somos muito mais parecidos do que imaginamos.

Nathy

Anônimo disse...

Meu Deus, me arrepiei toda, que texto lindo.