quinta-feira, 3 de março de 2011

MEDÍOCRE COMO EU


Não sou muito fã de futebol, assisto às vezes alguns jogos do São Paulo e da seleção brasileira, mas sem aquele fanatismo peculiar do homem brasileiro, lembro-me quando comecei a interessar-me por futebol, em uma manhã vi os gols de São Paulo e Barcelona no primeiro mundial conquistado pelo São Paulo, o lindo gol de cobrança de falta do Rai, de alguma forma, me fez olhar aquele esporte de maneira diferente, então comecei a torcer pelo tricolor.
Logo depois assisti a copa de 94, enfeiticei-me por aquele time, tudo foi muito mágico naquele ano, todo aquele sofrimento, O gol do Bebeto para seu filho, o gol do Branco contra a Holanda, e principalmente os gols do Romário, me deixavam cada vez mais ligados, lembro-me de cada jogo, gravei todos cuidadosamente em fitas de vídeo cassete e assisti incansavelmente por vários anos. Essa copa se romantizou na minha cabeça, me tornei então torcedor da Seleção Brasileira.
De uns tempos para cá, me parece que as coisas perderam um pouco a graça, não sei se dentro de mim, ou o futebol esta pior mesmo. Mas o que interessa mesmo, é que muito raramente eu assisto uma partida de futebol, só as vezes, pra não me desligar completamente.
Em uma dessas, poucas partidas, que ainda assisto, tive o desprazer de ver uma cena que me levou a acreditar que o problema não era eu, o futebol já não era mesmo definitivamente. Depois de levar um drible do Neymar o Juan, jogador na época do flamengo, deu-lhe uma pancada covarde, e como se ainda não fosse o bastante, foi até seu ouvido e esbravejou varias coisas, aquela cena me deixou tão chateado, decepcionado e desapontado com o esporte que simplesmente desliguei a televisão e fui ler.
Como fazia um tempão que eu não assistia futebol, até achei que tinham inventado uma regra proibindo a pratica do drible, pois por mais incrível que pareça, a maioria dos comentaristas, treinadores e “especialistas-sabe-tudo” davam razão a Juan alegando que o drible de Neymar visava humilha-lo.
No outro dia fui a internet pesquisar por alguma opinião que me parecesse mais sensata, na maioria dos fóruns, todos ficavam tentando decifrar quais palavras Juan teria dito nos ouvidos de Neymar. De várias bobagens que vi, uma postagem me chamou atenção, dizia um rapaz no final da pagina, já irritado com tantas adivinhações e teorias disse: “é simples o Juan disse: você tem a obrigação de ser medíocre como eu, seja medíocre como eu”. Pronto, foi isso mesmo que ele disse, independente de qualquer coisa que possa ter saído de sua boca, pra mim, foi isso que ele disse. Há tempos não via uma sacada tão inteligente como essa na internet, esse rapaz simplesmente pois fim ao monte de bobagens que escreviam. Depois disso ninguém postou mais nada, não quiseram dar continuidades às leituras labiais ou coisa parecida, pois por mais que conseguissem reproduzir fielmente as palavras daquele jogador, ninguém, poderia expressar de maneira mais fiel o que ele realmente tentara dizer.
Mas esse fenômeno de mediocridade não se revela apenas no futebol, essa obrigação, quase que decretada por lei, é uma realidade de todo o nosso pais. As pessoas que tentam um lugar melhor ao sol, ou buscam ler um pouco mais ou mesmo trabalhar mais, fazerem as coisas melhores, são simplesmente apedrejados nesse pais, ser competitivo, gerar concorrência é algo visto, na maioria das vezes, como afronta. Certa vez Tom Jobim disse que fazer sucesso no Brasil era ofensa pessoal, todo mundo jogou pedra e criticou, mas na verdade é isso mesmo, é inacreditável, inimaginável e inconcebível mais é verdade. É mais fácil derrubar quem esta escalando do que construir uma escada pra fazer o mesmo, partindo dessa mentalidade nosso país vai ficando pra atrás nos indicadores educacionais, já estamos atrás de quase todos os países da América latina em relação à qualidade de ensino, somos cada vez menos competitivos no mercado de trabalho externo, nosso qualidade educacional atual é comparada a países africanos em guerra civil. Estamos adotando a prática de impedir que outro cresça, pra não ficar pra trás, em vez de estudar pra crescer também. As grandes mentes brasileiras simplesmente estão indo embora pois se sentem perseguidas por aqui, são simplesmente pescadas pelas universidades americanas que descobriram que é mais vantajoso seguir a politica do quem da mais do que a politica do quem da menos adotada pelo Brasil.
Não tenho a petulância de me comparar ao Neymar jogando futebol, mas sei que na maioria das coisas que me proponho fazer eu faço bem, tenho opinião, procuro sempre melhorar, ler e estudar, mas estou de canelas roxas de levar pancada, de ter a vida dificultada, as portas fechadas, ser chamado de doido pelos que não conseguem compreender o que eu escrevo, ou mesmo ser chamado de hacker pelo simples fato de eu saber mais do que o Ctrl-C e Ctrl-V, ou abrir mais do que Word. Onde eu moro sou simplesmente uma ilha, tipo assim, rapaz, se você continuar lendo desse jeito ou escrevendo razoavelmente bem como faz, vamos continuar a castiga-lo, deixaremos de falar com você pra sempre.
Da trabalho sim se destacar, tentar descobrir algo novo, fazer qualquer coisa de maneira melhor, mais eficaz, da trabalho ser persistente, lutar por uma ideia, se dedicar a algo novo ou revolucionário, da trabalho tentar convencer aos outros de que existem maneiras mais eficazes de executar determinado trabalho feito a anos da mesma forma, da trabalho pensar, mas é preciso. Porém, infelizmente, no pais dos comerciais, no pais das maravilhas feito especialmente para esses brasileiros que não gostam de pensar, e que qualquer Alice se criaria muito bem, pois não deixa nada a desejar ao pais das maravilhas, a realidade é muito diferente, vivemos em um lugar sem futuro e perspectivas, alimentados por um nacionalismo puramente futebolístico, um pais onde a grande maioria da população é alimentada o suficiente para não morrer e continuar votando, mas nunca o bastante pra poder desenvolver o cérebro e tentar alçar voos mais altos ao ponto de se rebelar e por fim ao ciclo. E quando aparece alguém que tenta saber um pouquinho mais, vem então um Juan da vida e grita em seus ouvidos. Seja simplesmente medíocre como eu.

2 comentários:

junior disse...

é como vc fala paulinho, só moro aqui no Brasil por falta de opção, por isso e outras coisas que me machucam muito!!

Marcus Vinicius disse...

O brásileiro só tem amor a pátria quando se está em tempo de copa do mundo! é quando todo mundo coloca a mão direita no lado esquerdo do peito e canta o hino nacional! A maioria da população do nosso país é exatamente como você menciona nessa postagem, estamos vivendo em uma época onde pensar ou se expressar de maneira inteligente tem sentido quase que similar a um comportamento de loucura.