quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A ROSA DE HIROSHIMA

Tinha decidido não escrever sobre a onda de violência que a TV anda noticiando, pois falar sobre isso parece modismo, todo mundo esta dando uma de psicólogo tentando explicar porque a menina Eloá morreu. Eu não estou aqui para explicar porque ela morreu, mas é impossível ficar inerte em meio a esse mar de estupidez que estamos vivendo, meu Deus, o que esta acontecendo de errado? acho que nossos sentimentos estão sendo banalizados, estamos vivendo um processo de desvalorização do que nos deveria ser sagrado, que são as coisas que sentimos. estão capitalizando o amor, a saudade, a compaixão, o carinho, estão querendo vender tudo isso enlatado.

A capitalização dos nossos sentimentos e a institucionalização da vida são responsáveis desde a bomba de Hiroshima até tragédias como as da Eloá. Estão controlando os sentimentos das pessoas, estão ligando e desligando as coisas nas pessoas. É muito mais fácil vermos pessoas comovidas com o sofrimento da Donatela do que com a fome dos próprios vizinhos. Tanto os valores como o que sentimos está sendo desligado pela televisão, ou seja, a televisão tem um controle remoto das pessoas, e não mais as pessoas tem o controle sobre seus aparelhos de televisão. A morte em filmes e a violência gratuita, virou coisa tão corriqueira que não conseguimos nos sentir chocados com mais nada. não é difícil vermos adolescentes que saem atirando em todo mundo baseados em filmes que assistiram, mesmo não saindo imediatamente colocado em prática o assistido, vai se acumulando, e se convencendo que tudo isso é normal, que devemos matar todos aqueles que nos fazem mal, que pisam nos nossos pés, assim como o Rambo faz ou o Esterminador do futuro. Não vejo nada que contraponha essa tendência de vida, não consigo mais ouvir as verdadeiras musicas de amor, nem poesias de beleza, as músicas de hoje banalizam o amor, confundem apelo sexual com sentimentos de amor, vendem amor como uma noite de sexo. Estão querendo dar preço ao amor, mas isso não tem preço, o corpo de quem ama é sagrado, incomprável. O amor vem das coisas de simplicidade, de saudade gostosa, de perfume da folha de papel, de fotos antigas achadas no fundo da gaveta, assim como na música Vamos fazer um filme do Renato Russo.


Achei um 3×4 teu e não quis acreditar
Que tinha sido a tanto tempo atrás
Um bom exemplo de bondade e respeito
Do que o verdadeiro amor é capaz
A minha escola não tem personagem
A minha escola tem gente de verdade
Alguém falou do fim-do-mundo,
O fim-do-mundo já passou
Vamos começar de novo:
Um por todos, todos por um
O sistema é mau, mas minha turma é legal
Viver é foda , morrer é difícil
Te ver é uma necessidade
Vamos fazer um filme
E hoje em dia, como é que se diz: “Eu te amo.”?
Sem essa de que: “Estou sozinho.”
Somos muito mais que isso
Somos pinguim, somos golfinho
Homem, sereia e beija-flor
Leão, leoa e leão-marinho
Eu preciso e quero ter carinho, liberdade e respeito
Chega de opressão:
Quero viver a minha vida em paz
Quero um milhão de amigos
Quero irmãos e irmãs
Deve de ser cisma minha
Mas a única maneira ainda
De imaginar a minha vida
É vê-la como um musical dos anos trinta
E no meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia
E hoje em dia, como é que se diz: “Eu te amo.”?
Vamos Fazer um filme
Eu te amo
Eu te amo
Eu te amo

(Renato Russo)


Quase já não assisto televisão, acho perda te tempo, estou no processo de desintoxicarão cerebral, dizem alguns, que ando lendo demais, mas não acho, leio menos do que alguns assistem televisão. As pessoas precisam aprender a conhecer coisas novas, aprender a buscar novos parâmetros de vida, novas fontes de prazer, de reflexão. Acho que no fundo, a escola tem o papel de contrapor os maus exemplos do dia-a-dia, formar mentes conscientes e principalmente capazes de desligar um aparelho de televisão antes que ele o desligue do mundo. Por exemplo as escolas poderiam começar pela poesia de Vinicius de Moraes chamada A Rosa de Hiroshima.


Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada

(Vinicius de Moraes)


Acho que todos que lêem essa poesia conseguem ter uma idéia melhor do quão brutal e desumano foram as bombas de Hiroshima e Nagazaki. Mas como podemos ter criado pessoas com um grau de desumanização tão grande a ponto de fazer tais coisas? com certeza não foi de um dia para o outro, foi um processo. por isso é preciso fazer alguma coisa, é preciso repensarmos nossos valores, observar o que nossos filhos assistem na TV.

De tudo, como se diz Eu te amo? quase ninguém sabe, alguns pensam que é com uma nota de 100 reais, outros pensam que é dar uns “amassos” na gatinha ou sair “pegando” todas que encontrar pela frente. Dizer eu te amo não é pelo orkut não, é coisa de pele, é jantar a luz de velas, e andar de roda gigante, é ir no cinema e sentar juntinho, é deitar embaixo da árvore e lembrar de coisas passadas, mas não é ir na festa do Pop Som ficar bêbado, pegar pelo cabelo da “cachorra” e arrastar pro escuro, ou usar as mulheres como copo descartável. dizer eu te amo vem de namorar escondido, ficar com medo de ser pego, perder o horário, ter histórias legais pra contar quando a velhice chegar. Amar é tanta coisa, mas que pouca gente sabe, e hoje em dia, como é que se diz eu te amo? As vezes é tão fácil falar de amor e outras tão difícil, as vezes o amor parece estar, outras parece que foi embora, ou mesmo que nunca esteve, mas para o amor, as vezes é preciso lembrar de algumas coisas e outras vezes é preciso simplesmente esquecer.

Amar!
É quando não dá mais prá disfarçar
Tudo muda de valor
Tudo faz lembrar você
Amar!
É a lua ser a luz do seu olhar
Luz que debruçou em mim
Prata que caiu no mar

Suspirar sem perceber
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo prá te ver

O amor é um furacão
Surge no coração
Sem ter licença prá entrar
Tempestade de desejos
Um eclipse no final de um beijo
O amor é estação
É inverno, é verão
É como um raio de sol
Que aquece e tira o medo
De enfrentar os riscos
Se entregar...

Amar!
É envelhecer querendo te abraçar
Dedilhar num violão
A canção prá te ninar

Suspirar sem perceber
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo prá te ver...

O amor é um furacão
Surge no coração
Sem ter licença prá entrar
Tempestade de desejos
Um eclipse no final de um beijo
O amor é estação
É inverno, é verão
É como um raio de sol
Que aquece e tira o medo
De enfrentar os riscos
Se entregar...

(Cleberson Horsth - Ricardo Feghali)

3 comentários:

Anônimo disse...

Realmente poucas pessoas sabem o q é amar de verdade. parabens lindo texto

Anônimo disse...

sabe paulinho ja fiz essa pergunta varias vezes, meu Deus o q esta acontecendo? tenho o habito de assistir ao menos um jornal todos os dias, geralmente assisto cedo antes de vir trabalhar, comecei a perceber que ao inves de ficar bem informada eu saia de casa triste e ficava horas pensando naquelas noticias tristes, meu Deus como seria bom se realmente as pessoas soubessem amar de verdade, se as pessoas fossem solidarias umas com as outras... hoje fiquei emocionada quando uma coleguinha preocupada porq minha filha tinha passado mal, a amiguinha foi leva-la na minha casa e antes de sair olhou p minha filha e perguntou vc esta bem mesmo?? ela falou isso com sinceridade sabe, aquele olhar de criança... isso tudo é tao raro entre os adultos nao é meu amigo?

Anônimo disse...

Estou absolutamente feliz de saber que ainda existem pessoas capazes de ter sentimentos tão sublimes que é a compaixão e o amor! Satisfeita por ver que resgatar isso tavez não seja tão difícil quanto eu pensava. Parabéns por não aceitar respostas prontas, e contrapor todas com suas próprias questões. Sonhar com um mundo melhor e mais solidário não é loucura, e mesmo que fosse, é a loucura mais sã que pode existir.

Bruna Machado