quarta-feira, 29 de outubro de 2008

TUDO BEM


Esses dias acordei sentindo uma saudade gostosa, um cheirinho de muitos anos atrás, muitos não, vamos dizer que muitos em relação aos meus 25 anos de vida. acordei sentindo cheirinho terra molhada, mas não é qualquer terra não, era a terra da rua da frente da casa que eu morava quando criança, essa terra tem um cheiro especial que é só dela. Isso me fez lembrar o quanto eu era feliz quando criança, meu mundo era completo, levantava cedo de manhã para tirar lagarta da horta de couve, adorava brincar de lavar garrafa de refrigerante e rodar os vasos de samambaias da minha mãe penduradas no quintal, calçava as meias pra escorregar no chão da sala e me escondia atrás da estante pra mamãe me procurar quando chegasse do trabalho. As vezes eu fico me perguntando, porque as coisas não podem ser como eram por toda nossa vida? porque é que temos que desaprender a felicidade? Realmente eu não sei, só sei que eu desaprendi, eu e um monte de gente que fica fingindo ser feliz por ai.
Passei perto de algumas crianças que brincavam de desenhar no chão quando vinha do trabalho, me lembrei de como eu e meu irmão nos divertíamos desenhando cobrinhas e brincando com fichas de refrigerante. Hoje, nada que eu faça, por mais legal que possa parecer, me traz a felicidade que eu sentia quando brincava com meu irmão. Isso me faz lembrar uma fala do Renato Russo no CD Como é que se diz eu te amo, na musica Giz, ele diz que essa música é uma descrição do seu tempo de criança no Rio de Janeiro, um Rio de Janeiro que não existe mais, e é isso que eu acho, sei que não tenho mais meu meu irmão, nem a mesma idade, mas pra mim, existe alguma coisa no mundo que se perdeu, uma coisa que não existe mais. Não consigo mais perceber nas crianças a felicidade que eu sentia, hoje todos estão crescendo antes da hora, estão preocupados com a vida, com o futuro. Sabe? no fundo acho que não existe mais aquela felicidade gostosa que eu sentia, de desenhar na calçada sem preocupação com nada.

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço, por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Quando quero

Desenho toda a calçada
Acaba o giz, tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol que a chuva apagou
Quero que saibas que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda do que me faz forte
E, pra ser honesto,
Só um pouquinho infeliz

Mas tudo bem
Tudo bem, tudo bem...
Lá vem, lá vem, lá vem
De novo:
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti que não me esquecerei

(Renato Russo)

Juro que queria resgatar essa felicidade no coração de todas as crianças. ah! se os pais soubessem o quanto é importante não cobrar responsabilidades de seus filhos, o quanto é importante deixar com que eles vivam sem preocupações, sem medos, sem ter que “garantir” o futuro. Seu filho de 4, 5, ou 6 anos que faz Inglês, natação, judô e piano não necessariamente será alguém feliz, e o que os pais devem se preocupar e o quanto seus filhos estão felizes agora, deixem que eles rabisquem o sol na calçada, que corram, que subam em arvores, não os contamine com a escravidão dos relógios, das rotinas e principalmente dos conselhos dos vizinhos (um dia eu escrevo sobre os conselhos dos vizinhos). Acho que é a fase mais importante da vida e ninguém tem o direito de estragar.
Mesmo sabendo que o mundo já não é mais o mesmo dos meus tempos de meninice queria que meus filhos fossem felizes como eu fui, as vezes fico triste por não estar conseguindo dar a vida que meus pais me deram pra eles, certos dias me da vontade de voltar no tempo e leva-los pra conhecer como era legal meu mundo, mas sei que não da. Porém que não façamos de nossas pequenas infelicidades motivos para deixar de viver, acho que estou aprendendo a fazer isso, não vou esconder mais minhas tristezas, e muito menos deixar com que elas tomem conta de mim, e quando me perguntarem você é infeliz? vou responder, pra ser honesto um pouquinho infeliz, mas tudo bem, tudo bem.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tenho que admitir que chorei quando li seu texto, não o conheço pessoalmente mas parece que vc fala exatamente para mim. espero toda semana ansiosa seu texto. beijos.

Amanda L.