segunda-feira, 30 de junho de 2008

AINDA SOBRE O SILÊNCIO ou CATEDRAL E CLARICE

Ainda falando sobre o silêncio quero postar uma musica que era pra eu ter colocado no texto porém acabei esquecendo pois estava com sono, mas agora disponibilizo pra vcs, é de uma banda que eu amo de paixão e chama-se Catedral, pouca gente conhece pois na mídia do Brasil só tem espaço pra "Chupa que é de uva", "Creu Creu Creu Creu Creu", "Dança do quadrado" ( feita especialmente para os burros quadrados) e outras porcarias mais. Tudo produzido especialmente pra gente de mente pequena que não tem poder de abstração suficiente pra apreciar coisa melhor, feito pra gente que não tem educação e vai sempre continuar não tendo enquanto estiverem ouvindo essas coisas (que não podem ser classificadas como músicas, pois música é arte). Pois bem, essa musica é da banda Catedral ( a melhor banda em exercício do Brasil) linda de morrer.

Sempre apaixonado

Deixe que eu te faça
Um pouco feliz
Mesmo que a distância lhe provoque medos
Tenho um segredo para te contar
O meu coração está apaixonado
Deixa que eu te olhe meio assim de lado
de um jeito descuidado, um pouco relaxado
Mas sempre interessado no teu bem querer
E aí! Não precisa olhar pro mapa não
O Japão é aqui
Pra quem ama não tem essa não
Me dê sua mão e escuta o meu silêncio
Sempre apaixonado

De tanto falar esse monte de coisa (quem sabe um dia eu não escreva mais detalhadamente, pois agora estou cansado e com sono) lembrei de um poema de Clarice Lispector (que ao contrario do que muitos professores sabichões dizem não é brasileira e sim ucraniana, quero aconselhá-los a antes de falar, ler um pouquinho) que chama-se a lucidez perigosa e representa exatamente aquilo que estava falando lá no inicio da postagem.

A lucidez perigosa

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.


Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.


Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.


Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

A propósito sempre achei que deveríamos ter poesia como disciplina escolar, em vez de religião ensinaríamos nossas crianças apreciarem poesia. Religião não se ensina, nunca vi ninguém, de fato, ensinar religião. Vi gente tentando ensinar alguma coisa que eles consideram ser religião, perda de tempo, deveríamos ensinar nossas crianças a apreciar a beleza das poesias, tenho certeza que tudo estaria diferente, tudo estaria mais sereno. Já pensou o professor entrar na sala de aula e dizer, hoje apreciaremos Clarice e começasse a ler.

Meu Deus, me dê a coragem


Meu Deus, me dê a coragem
de viver trezentos e sessenta e cinco dias e noites,
todos vazios de Tua presença.
Me dê a coragem de considerar esse vazio
como uma plenitude.
Faça com que eu seja a Tua amante humilde,
entrelaçada a Ti em êxtase.
Faça com que eu possa falar
com este vazio tremendo
e receber como resposta
o amor materno que nutre e embala.
Faça com que eu tenha a coragem de Te amar,
sem odiar as Tuas ofensas à minha alma e ao meu corpo.
Faça com que a solidão não me destrua.
Faça com que minha solidão me sirva de companhia.
Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tava pensando em "Sempre Apaixonado" esses dias, gosto mto dessa música, uma das minha preferidas, junto com "Meu País". Mto boa! =)

E realmente essa dança do quadrado é o fim hehe.. Fico besta de ver como tem retardados que acham isso legal.

Eu tive a comprovação esses dias, algumas pessoas tem medo de quem pensa, tem medo daqueles que sabem sentir, e como não conseguem se igualar, tentam derrubar pra não morrerem sozinhos na ignorância.

Abraço Paulinho! ;)

Att,

Arliene

Anônimo disse...

Nossa! você foi bem preciso nas suas colocações ao argumentar sobre as novas tecnologias, professor e leitura. A escolha pelo poema da Clarice Lispector, caiu como "luva", ela sempre arrasa, seja seus textos em versos ou prosa, mas sempre causa uma instrospecção no leitor, sabe? aquele encontro de você consigo mesmo, acredito que seja a escolha das palavras, o jogo dos versos, misturados com a sensibilidade de quem é apaixonado pela leitura.

Anônimo disse...

O seu texto revela o quanto é historico pensar que qualquer pessoa pode ser professor. Uma concepção literalmente equivocada se concebermos o quanto o professor é importante para a formação dos seus alunos, da sua sociedade. Eu fico estarrecida, quando vejo professores que não sabem ensinar e se consideram o "bam, Bam", veja, bem, ter conhecimento do conteúdo a ser ensinado é uma coisa, saber ensinar esse conteúdo é que são elas. Tenho colegas professores que são bons em matemática, geografia, enfim, em várias ciências, menos na ciência de ensinar e aprender. Penso que para ser professor você não precisa saber tudo, mas deve saber que ensinar é um eterno processo de aprender.