sexta-feira, 6 de junho de 2008

Que bom que você se casou


Eles se casaram, que bom, gosto de casamentos, apesar de tão raros hoje em dia, gosto de lembrar o que passava na minha cabeça as vésperas de meu casamento, todo mundo dando conselhos, me dizendo como deveria fazer, o que iria acontecer, ou mesmo que não deveria casar, pois ainda não era hora, como se a vida marcasse hora pra tudo. Quero lhes dizer, que tudo que me falaram era besteira, primeiro porque a vida não marca hora com ninguém, e segundo porque ninguém disse o que aconteceria na minha vida, o que eu vivi foi único, ninguém disse que eu viveria, os conselheiros de plantão apenas me disseram o óbvio, disseram que eu passaria por muitas crises, por muitas decepções, por muitos desencontros, frustrações, me disseram pra tomar cuidado com os ciúmes e não deixar toalhas molhadas sobre a cama, me disseram que eu deveria sair pra trabalhar bem cedinho e nos finais de semana me dedicar a família, ir a igreja, receber os parentes, beber uma cervejinha, conversar sobre carros, política e, sobretudo, mostrar que eu sou a melhor pessoa do mundo (conversa de macho), que faço parte da melhor e mais bem estruturada família do universo, que tudo de errado só acontece com os outros, que sou seguro e bem sucedido, que só levo vantagem nos negócios que faço, que vou trocar de carro no final do ano e que vou comprar um apartamento na capital logo logo. Tudo bobagens, fiz ao contrario, fui eu mesmo, não vivi pra agradar ninguém, apenas fui eu. Não posso dizer que fiz tudo certo, e que não há coisas das quais eu não me arrependa, mas tudo que fiz, tenho a consciência de que eu escolhi, sofri por mim mesmo, e sobretudo amei por mim mesmo.

Não vou dar conselhos de casamentos, pois como já disse, acho isso dispensável , vou apenas contar algumas histórias, e falar de algumas coisas que aprendi.

Acho que poucas pessoas conhecem o Oswaldo Montenegro, digo poucos pois “os bons andam meio esquecidos” , de tudo que ele faz, acho ele um grande poeta e um excepcional músico. Mas a principal injustiça não é ele ser pouco lembrado, mais principalmente, ele, quando lembrado, ser lembrado por apenas uma obra, e toda e qualquer coisa que ele faça depois, por melhor que seja, nunca ser apreciada. Acho isso um castigo muito grande para um artista. Lembro que uma vez li que o cantor Ritchie, depois de um tempo, desejava nunca ter gravado o hit menina veneno, pois depois dessa musica ele nunca mais conseguiu cantar mais nada, ninguém deixava, dizia ele, ser torturante ter que cantar a mesma música por mais de vinte e cinco anos. Dizem que teve show que ele teve que cantar 7 vezes a mesma música,quando passava na rua todos o chamavam de menina veneno, acho que até hoje fazem isso. Assim fazem com Oswaldo Montenegro, todo mundo só conhece a música Lua e flor, pois foi tema do Sassá Mutema na novela o Salvador Da Pátria de 1989. Depois disso ninguém mais se permitiu ouvir mais nem uma música dele. Uma pena, pois todo mundo não sabe o que ta perdendo, ele também tem uma musica chamada Leo e Bia, linda canção que todos deveriam ouvir

No centro de um planalto vazio,
Como se fosse em qualquer lugar,
Como se a vida fosse um perigo,
Como se houvesse faca no ar.
Como se fosse urgente e preciso,
Como é preciso desabafar,
Qualquer maneira de amar valia,
E Léo e Bia souberam amar.
Como se não fosse tão longe,
Brasília de Belém do Pará,
Como castelos nascem de um sonho,
Pra no real, achar seu lugar.
Como se faz com todo cuidado,
A pipa que precisa voar,
Cuidar de amor exige mestria,
E Léo e Bia souberam amar.

Dessa música tirei uma das mais belas lições de vida que alguém pode tirar, aprendi que “castelos nascem de sonhos” e não que sonhos só nascem em castelos, para amar, não é preciso estar em castelos, se pode amar e sonhar em qualquer lugar, não é preciso ter um bom emprego, um grande apartamento ou muito dinheiro para poder se apaixonar, para se apaixonar é preciso apenas entrega, transparência, ternura, doçura e uma pitada de friozinho na barriga. Ninguém pode dizer qual à hora de se apaixonar, é coisa que acontece, acontece no quarto pequeno na casa dos pais, na casa humilde alugada com sacrifício, na cozinha improvisada perto do banheiro, do quartinho de bebê decorado com todo carinho, com toalhinhas bordadas a mão com muita paciência. O amor e a paixão nasce assim, com essas coisas simples, isso é saber amar, e Leo e bia souberam.

Tenho pena das pessoas que nunca passaram pelo feitiço do apaixonamento, há muitos pesadelos em grandes castelos, tenho pena das pessoas que esperaram o “tempo certo” e casaram com a “pessoa certa” e formaram a “família certa” delas foi privada a capacidade de sentir, de dar o próprio sentido a sua vida, só lhe restou à fria opção da razão alheia. Todos estão felizes com ela, sua mãe, seus tios e avôs, pois arrumou bom casamento, de família, de estabilidade, moço de dinheiro, mas no fundo tudo é muito triste na perfeição que Lhe atribuíram. Tem gente que faz assim, gente que vive por toda a vida para satisfazer a falsa idéia de felicidade que as pessoas lhe atribuíram, ai a vida lhe parte em duas, aquela pessoa que acorda cedo, faz o café, arruma as crianças para a escola, lava roupa, faz comida e espera a volta do marido, e aquela outra pessoa que fica imaginando como seria a vida se tivesse escolhido um caminho diferente, fica imaginando estar em lugares legais, com roupas e pessoas diferentes, sem ter que corresponder à infernal expectativa de ninguém, de ter que fazer café ou arrumar as roupas de filho-de-uma-égua de marido nem um, de não ter de acordar cedo por ninguém, de não ficar rindo de graça pra gente chata, de não ter que fazer sala pra gente fofoqueira, perder o final de semana com gente mesquinha , imaginam tudo isso com muita tristeza.

Um dia li um texto adaptado da Oração da Gestalt em um livro de Ruben Alves que dizia o seguinte:

Eu sou eu, você é você,

Eu não vim para o mundo para satisfazer as suas expectativas,

E nem você veio ao mundo satisfazer as minhas,

E quando a gente se encontra,

É bom.

Achei que era verdade a bela poesia, mas ai, aprendi, de maneira dura, que não é verdade, em se tratando de casamento de apaixonados, “eu tenho que ser você e você tem que ser cada vez mais eu”, essa é a química da paixão, quando dois são um, corações no mesmo compasso, friozinho na barriga, panela de pipoca na cama e gargalhadas altas de bobas brincadeiras. “Eu só eu e você é você” é pra casamento de contrato, é pra casamento com data de validade no rotulo, casamento bancário. De “eu ser você” também aprendi que dois erros não formam um acerto, e um erro nunca justifica e nunca justificará outro.

As vezes fico imaginando as pessoas que não sabem amar, também não conseguem ouvir a beleza por trás das letras de Oswaldo Montenegro, fico imaginando as pessoas que não sabem amar (só fingir) que acham que o dinheiro tudo compra, também não sabe sentir friozinho na barriga. Fico imaginando as pessoas que não sabem amar dando conselhos.

- O que ele te deu nesses anos todos de casamento?

Ai imagino a resposta de alguém que já passou por uma experiência verdadeira de amor.

- Me deu dois lindos filhos, e isso você não pode sentir, porque dinheiro nenhum pode comprar.

Que bom que você se casou minha irmã Nathalia (ou Francisca) espero que você seja Bia e que de tudo, mesmo com toda dificuldade, saiba amar, o resto se compra.

3 comentários:

Anônimo disse...

Como foi bom ler essas suas palavras, e saber que nem todos pensam que o casamento só tem o seu lado escuro,bom, pelo menos foi o que eu ouvi esses ultimos dias, como vc, também ouvir diversos conselhos de várias pessoas e alguns chegaram a me entristecer, pois eram amargos e duros, necessitava ter palavras compatíveis com a alegria que estou sentindo.Sei que passaremos por momentos dificeis, mais quero viver a alegria de agora, amar e sentir um friozinho na barriga, brincar e rir de coisas bobas...
Mas não tive apenas conselhos ruins, pude ouvir muitas coisas boas também, de pessoas que assim como vc sabem que existe, tanto o lado bom quanto o ruim, basta ter amor e fé em Deus para superá-los.
Agradeço á Deus o presente, por amar e ser amada, pois nem todos têm esse privilegio.
Espero de coração que eu possa ser como a bia (e não como a Francisca.) rsrsrsrsrsr
beijos....
Nathalia.

Flor disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Tuas palavras são tão lindas, pena que não são como suas atitudes pois de casamento você tem muito que aprender ainda.