sexta-feira, 6 de março de 2009

EU EDUCADOR II


Certa vez, certo homem, de uma determinada cidade foi cobrar uma divida política com um governante local.

-Bom dia Prefeito!
-Bom dia seu Antonio.
-É que o senhor tinha ficado de me arrumar um emprego, lembra?
-Claro seu Antonio, inclusive a vaga já está a sua espera, o senhor vai ser
professor de grego na escola municipal.

-Muito obrigado seu prefeito, quando eu começo?
-Amanhã
-Mais uma vez obrigado

Desde então seu Antonio, que era carinhosamente chamado de tio Antonio, pelos seus alunos, lecionou por 35 anos grego. Tio Antonio era muito respeitado na escola, inclusive tinha fama de “bom professor” seus índices de aprovação nunca foram menores que 100%, por muitas vezes foi eleito o professor do ano na escola, inclusive certa vez todos queriam que ele fosse o diretor da escola, mas ele não quis, achava muito trabalhoso, preferia ficar na sala de aula, era do contato com a turma que ele gostava, todos diziam que esse era seu dom, dar aula. Mas os anos foram passando ate que a aposentadoria chegou, velho professor, cansado de guerra comprou uma casinha um pouco separado da cidade e foi curtir seus dias de sossego, Antonio nunca chegou a se casar, seus 35 anos de dedicação total a escola, sempre foram um empecilho para um relacionamento sério, diziam suas colegas de trabalho. No ano de sua aposentadoria, o dia do professor foi dedicado a ele, teve homenagem das crianças, dos antigos alunos e discurso da gestora de educação, Antonio não se conteve, chorou as bicas. Na maioria dos dias ninguém via tio Antonio, de vez enquanto, ele era convidado para ser júri de festival de quadrilha ou de calouros, na maioria do tempo ficava ele, sozinho, na sua chácara, até que um belo dia, Clara (que carinhosamente era chamada de “Crara” pelos seus visinhos), mulher trabalhadeira, recebeu uma carta de uns parentes distantes gregos, só que a carta veio em grego, todos ficaram ansiosos por saber o que lá estava escrito, pois os “Primos estrangeiros” eram "bem na foto" como diziam os visinhos, porém a angustia continuava, pois conseguia decifrar o que estava escrito, uns dizem se tratar de herança, outros achavam que era negocio de anuncio de visita, mas, de fato, ninguém conseguia elucidar o mistério, até que por um estalo, Carlinhos, sobrinho de clara, lembrou: porque não levamos pro tio Antonio ler? Todos acharam a idéia genial e saíram às presas para o refugio do professor. Chegando lá contaram-lhe toda a história e pediram:

-Será que o senhor poderia ler essa bendita carta pra nós?

O professor pegou seus óculos, cuidadosamente colocou em seu rosto, franziu a testa e disse:

-Quem disse que eu sei grego?

*****

Muitas histórias cercam a imagem de um antigo governador paraense chamado Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, conhecido simplesmente como Barata. Dizem alguns, que em certa viajem que o governador fez a uma cidadezinha do interior do Pará, uma mulher com um filho no braço se aproximou dele e disse:

-Dr Barata, eu queria um emprego.

Sem olhar pra pobre mulher, ele disse pra sua secretaria:

-Secretaria, de um emprego de professora pra essa mulher
-Dr Barata eu não sei ler
-Secretaria, aposente essa professora.

****

Em um reino bem distante, há muito tempo atrás, mas não é pouco tempo, a muito muito muito tempo atrás, certo Rei que devia um grande favor a um colono que havia lhe curado de uma úlcera no estomago com ervas do campo. Por muitos dias o rei pensou que função daria pra ele como forma de premia-lo, já que, de nada precisava mais o reinado. Em uma manha de sábado mandou seus guardas cortarem a cabeça do leitor oficial de correspondência do reino, e deu o lugar ao colono, pagava-lhe 35 moedas de ouro por lua cheia, mas logo surgiu um problema e o colono veio até o rei e sussurrou em seu ouvido:

-Majestade, eu não sei ler.
-Não tem problema, contrate um assessor. Pagaremos mais 15 moedas de ouro.
-Mas majestade, nesse reino, não conheço ninguém que possa desempenhar tal função.
-Não tem problema, alugaremos uma carruagem por mais 10 moedas de ouro pra
trazerem do reino vizinho.

Assim foi feito, nos dias de leitura oficial de correspondência para o conselho imperial oficial, o assessor do leitor oficial de correspondência, lia a mensagem, cochichava cuidadosamente nos ouvidos do colono que repetia em voz alta.
Por muito tempo foi assim, ate que um dia o colono chegou ao rei e disse:

-Majestade, admita meu assessor como leitor oficial, dei-me minhas 35 moedas e deixe que eu fique em minha cabana, é que às vezes não ouso direito e repito errado o que ele diz.

***

Adorei a franqueza do colono, se todos tivessem a humildade dele nossos sistemas públicos estariam muito mais ágeis, o problema é que as universidades estão diplomando a ignorância de quem quiser, e lhes convencendo de que aprenderam a ler e lhes enchendo de arrogância.
Que bom seria que o governador Barata voltasse e aposentasse todos os professores “analfabetos” que existem, ficariam poucos, mas voltaria valer a pena estudar.
Enquanto ao professor de grego nada a declarar, tenho que parar de escrever, vou comprar uns livros de grego para eu botar na minha estante, quem sabe assim não me torne um bom educador.

3 comentários:

Anônimo disse...

Existem um monte desses Professores analfabetos aki em ipixuna, mas tambem com uma secretaria de educação dessas "leitora de cartas" o negocio fica feio. Otimo texto...

Anônimo disse...

ótimo texto meu amigo, falando da nossa cidade, acho que poderíamos inumerar nos dedos das maos bons educadores, nao existe compromisso com a educação. isso é mt triste!

Anônimo disse...

Cuidado ao ficar criticando todo mundo, voce pode se dar mal, me considero ótima educadora, o problema é que voce não sabe ser criticado, não sabe ouvir criticas por isso fica reclamando pra todo mundo ler. voc~e tem muito a aprender ainda moleque.