quinta-feira, 24 de abril de 2008

Aos 24 dias de abril

Hoje é dia do meu aniversário, a primeira coisa que vem em nossas cabeças quando falamos de aniversario é bolo, a segunda balão, depois desses dois símbolos, que são universais na cabeça de todo mundo, as coisas podem variar um pouco, uns pensam em tortas e brigadeiros, outros pensam em cerveja, churrasco e música alta. Isso é resultado do processo de simbolização que nossa cabeça sofre durante nossa vida, simbologia que talvez não represente nada pra nós, mas que foi plantada em nossas mentes, empurrada, tatuada. Hoje vivo no que chamo de processo de desintoxicação do meu cérebro, desintoxicação de símbolos alheios, vou criar meus próprios símbolos para representar o que sou. Na minha cabeça já não me vem bolo e balão, muito menos cerveja e pagode, na minha cabeça passam coisas mais profundas, símbolos mais bonitos.

Não quero que cantem parabéns pra você pra mim, porque não gosto do final dessa canção, esse negócio de muitos anos de vida não é certo pra todo mundo, o certo seria assim: mesmo que poucos, intensos anos de vida. Tem gente que não suportaria muitos anos de vida, não desejaria 10 anos de coma pra alguém, ou quem sabe 7 anos com seqüelas de um derrame cerebral e muito menos 4 anos de depressão. Tem gente que prefere a intensidade do tempo, como eu. Não faço questão de muitos anos de vida, faço questão de bons anos de vida, ou quem sabe, um bom último ano de vida, desde que seja o melhor deles.

Através da simbologia que nos foi plantada, passamos a ter pavor à morte, e alegria pelos aniversários, como se as duas palavras morassem em lados opostos da vida, sinto muito lhes informar que isso não é verdade, aniversário e morte são sinônimos, são duas palavras que andam de mãos dadas. Vejam bem como as simbologias alheias nos pregam peças, sopramos nossas velas de aniversário com a maior felicidade, sem ao menos notar que esse ato representa menos um, ou seja, menos um ano que você já não tem mais, pense que sua vida fosse como um imenso campo escuro com velas acesas, a cada ano que passa você mesmo vai lá e sopra uma vela, ano após ano, até que o dia você, sem saber, na maior festa, com bolo, brigadeiro e pagode, apaga a ultima chama de sua vida, que horrível não? Mas é assim que fazemos, adotamos símbolos alheios sem ao menos questionar. Esse ano eu poderia acender uma vela, só pra ser chato, só pra fazer algo que realmente tivesse sentido, mas não vou fazer isso, pois não desejo anos de vidas que não são meus.

Assim como Rubem Alves, não sei quantos anos tenho, ou melhor, ainda tenho, pois isso ninguém sabe, só posso dizer dos anos que não tenho mais, das velas que já foram apagadas, essas sim eu conheço, são exatamente 26. Porem, as velas ainda acessas, não posso contá-las, ninguém pode ver. Mas estou tranqüilo, não sou bobo de achar que alguém pode adivinhar quantas velas me faltam, sei que isso não é possível, e muito menos eu gostaria de saber, mas quando elas acabarem, eu estarei aqui, para me transformar, para que da minha morte nasça outra vida, não sou tão petulante ao ponto de pensar que comigo poderia ser diferente, que eu não precisasse ir para que outros viessem, mesmo que pudesse escolher, mesmo assim desejaria ir quando fosse a hora. Aprendi a não ter medo da morte, aprendi que tudo tem de ter final para que haja sentido, para que possa ser contemplado, nunca nos disponibilizaríamos a ouvir uma canção sem fim, ninguém gostaria de apreciar tal música, por isso que eu quero um fim para minha canção, quero que um dia alguém possa contemplar a última linha da última estrofe da última poesia que eu escrevi, acompanhada da última nota, de um som que vai ficando baixinho até acabar e se transformar em vazio, será então o meu vazio, a minha contribuição para que a vida continue, para que alguém sinta saudade de mim.

O vazio que deixarei não será um vazio qualquer, nele, conterá meu relicário, nos últimos tempos estou enchendo ele de coisas, de músicas, de poesias, de textos, de pensamentos, deixarei o conjunto de tudo aquilo que fui. Gostaria muito que minhas musicas virem CD e meus textos livros, e diferentemente dos outros, não quero que meu corpo vá parar em um cemitério e que as pessoas chorem em cima do mármore cheio de parafina, quero que meu corpo vire cinzas e seja plantado junto com a semente de uma árvore bem grande em um bosque qualquer, e quando sentirem saudades de mim, ao invés de ir ao cemitério, vá ao bosque ver como a árvore está, qual o seu tamanho, e quando estiver bem grande, que se deitem de baixo de sua sombra e lembre de coisas boas, assim quero que seja.

Resumindo e dando um final as palavras, aos 24 dias de abril desse, cada vez mais rápido ano, eu, não desejo festas, bolos, brigadeiros e parabéns pra você, desejo coisas mais intensas símbolos mais bonitos e mais profundos, hoje desejo apenas passar o dia contemplando a beleza dos meus filhos, nada mais....

6 comentários:

Rosália disse...

Olá...
Li seu texto gostei muito...concordo em alguns pontos...pois tbm ñ curto muito esse negócio de niver...pra mim é um dia qualquer a diferença é q bem mas triste.
Mas mesmo assim e atrasado meus parabéns!!!

Rosália

Unknown disse...

oi menino paulo, esse texto é sua cara , mas ...
tb não curto muito essas "coisas Pre-prontas"...
Felicidades sempre e sempre na sua vida.
bjs.

A! disse...

Gostei do lance da arvore, acho deveria ser assim mesmo!

"..as lembranças são eternas" a gente qrendo ou não.

Abraço!

Blog do Paulinho disse...

Rosalia

Obrigado pelos parabens, e não é que eu não goste de aniversário, só não conjcordo com o tipo de comemoração que fazem, acho que temos que criar nossas próprias comemorações, coisas mais parecidas conosco. Um abraço.

Blog do Paulinho disse...

Lediane

Que bom ter vc por aki, espero que vc leia os outros textos, va até o final da pagina e clic em posts mais antigos, ou clique nos títulos no lado esquerdo do video, quero comentário em todos viu, espero que continue sempre visitando meu blog menina ledi...

Blog do Paulinho disse...

Arliene

Minha mais fiel leitora, adoro seus comentários, vc é uma pessoa de sensibilidade rara hoje em dia, continue sempre aki no nosso espaço compartilhando sua opnião, é muito importante pra mim. um abraço do seu amigo distante...