terça-feira, 1 de abril de 2008

A BEIRA DO CAMINHO

Para onde estou indo? Onde quero chegar? O que isso vai me trazer? Essas perguntas são essências serem feitas pra si periodicamente. Eu por exemplo acho que demorei muito tempo para faze-las, as vezes é preferível ficar parado do que prosseguir, pode até parecer estupidez mas descobri que essa é uma das grandes verdades do mundo, as vezes é melhor ficar parado.

Nunca me conformei com aquelas pessoas que passam 30, 40 anos na mesma situação, no mesmo emprego, na mesma vida. Mas algumas coisas me fizeram entender que tudo tem seu sentido, às vezes ficar parado é a melhor solução para algumas vidas. Muitas pessoas não estão preparadas para pagar o preço de conhecer caminhos diferentes, muitas pessoas entram em becos escuros, outros comem ervas venenosas da beira da

estrada, alguns se perdem, e outros morrem de cansaço, muitos morem de saudade de onde partiram por não encontrar nada de verdadeiramente importante na sua chegada. Eu parti, em busca de novos caminhos. Poderia ter escolhido ir para o outro lado do bosque, alguma coisa me dizia que era mais seguro, era mais calmo, porém, bem mais demorado. O outro lado era bem mais atrativo, sedutor, prazeroso, arriscado e curto. Os conselhos das velhas arvores, altas, e experientes, por tudo verem lá de cima, nada me adiantou, mesmo sabendo do risco, criei a falsa expectativa (que no fundo nem eu mesmo acreditava) que tudo poderia ser diferente, que eu poderia consertar esse caminho, que durante esse percurso eu poderia semear erva-cidreira e camomila, e sentir o cheiro delas durante minha caminhada, achei que poderia cortar as ervas daninhas e podar ciprestes para que a luz pudesse iluminar meus caminhos, e assim afugentar todos os lobos e raposas que ali viviam, fui induzido a acreditar que os corvos que ali habitavam já não eram tão maus, que tudo não passava de lenda. Tudo estava sob controle, pois meus olhos eram olhos especiais, meus olhos, apenas eles, viam pedras preciosas pelo caminho, eu poderia junta-las, aos montes, e no momento oportuno construir meu castelo, minha fortaleza. Tão segura, e tão sólida que nada ou ninguém poderia invadi-la.

Comigo levei uma rosa, uma rosa vermelha, que já achava não conter mais espinhos, levei-a em uma caixa de vidro, com todo o cuidado, com toda a esperança de que se tornasse uma flor, na verdade até vi nela uma flor, em uma de minhas miragens de paixão, caminhei por dias e dias, sem parar, com intuito de chegar ao lugar desejado. Ande apressado, até corri em alguns instantes, me tornei impaciente, irritado com a demora, tudo por achar que minha flor poderia murchar por falta de um castelo. Até que enfim cheguei, juntei minhas moedas que recolhi pelo caminho, que de fato me pareceu muito calmo, sem perigos ou ameaças e comecei a construir ao redor da minha caixa de vidro preciosa, o melhor castelo que minhas mãos poderiam fazer, com as pedras mais fortes. Invadi dias e noites a procura das madeiras mais nobres para minhas portas e janelas, da fechadura mais segura que minhas moedas poderiam comprar, então me envaideci, achei que estava seguro, mesmo que todo dia eu ainda aumentasse a altura do meu muro, achei que era supremo e inabalável, e que todo cuidado que eu ainda tomava era apenas para satisfazer meu ego.

Como toda parábola tem que ter uma lição moral a ser repassada, minha história não poderia ficar assim, então Deus, o todo poderoso, que até então não tinha citado, castigou minha arrogância, minha vaidade. Nas minhas viagens em busca de moedas de ouro para alegrar minha flor, os lobos e as raposas invadiram meu castelo, com a sedução de muito mais ouro que minhas mão pudessem trazer, com promessas de castelos muito maiores e bonitos que o meu, então na minha volta minha flor se transformou e rosa e cravou um grande, longo e venenoso espinho em meu coração, então percebi que aquela rosa sempre tivera sido rosa durante todo o tempo, e que seus espinhos sempre estiveram ali, que os lobos e raposas se escondiam atrás das arvores quando eu passava e que meu castelo era muito pequeno. Mas o espinho cravado pela rosa em mim, não me matou, pois não era pra matar, era apenas pra adoecer, pra me deixar sem forças, a me arrastar pelos caminhos frios escuros e tristes do bosque do mal, e ser zombado torturado e humilhado pelos corvos que um dia achei que já não faziam mais isso. Descobri então que o mal é articuloso, ele nunca demonstra ser mal, ele atrai com promessas de bondade, com olhos de arrependimento, de regeneração, se aproveita do sentimento mais nobre que você possa ter e lhe domina. Hoje me arrasto, sem forças, quase louco pelo barulho zombador dos corvos, sinto muita saudade de onde parti, bem melhor seria se tivesse ido para o outro lado, ou simplesmente tivesse ficado parado, talvez esse fosse o plano de Deus para mim, mas não, sei que estou muito distante do começo, e muito mais distante ainda da outra extremidade do bosque. Me arrasto sem noção, apenas com a certeza de que não conseguirei ficar assim por muito tempo, então compreendo a existência de ervas venenosas a beira do caminho.

Paulo Roberto Braga 01 de abril de 2008

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