sábado, 29 de março de 2008

SOBRE O AMOR, O DESAMOR, BRUXAS E PRINCESAS.

Essa semana cheguei a duas conclusões na minha vida, a primeira e que as coisas que não podemos explicar nos perturbam e a segunda e que as pessoas percorrem o caminho contrario da vida, essas foram as únicas duas coisas das quais tive certeza por esses dias.

Gosto bastante de Arthur Schopenhauer, mas sei que os poucos que o conhecem, não gostam (talvez por isso tenha morrido sem reconhecimento algum e tenha ficado assim por muito tempo até Nietzsche encontrar e popularizar sua obra). Mas eu particularmente adoro Schopenhauer, ele e suas obras andaram pelo caminho da tristeza, do desolamento, das lamentações, dizem alguns, que Schopenhauer não morreu como muitos, dizem, que ele foi desaparecendo, desaparecendo no esquecimento, no anonimato, na solidão. Sua morte, na verdade, não foi nem notada pela sociedade da época, que simplesmente ignorava sua obra.

Mas eu gosto de Schopenhauer não pela injustiça que aconteceu com ele (prática comum de nossa sociedade, todos fingem apoiar os injustiçados), mas sim pela sinceridade de sua obra, de sua vida, ele simplesmente admite a tristeza de sua alma, ele não perde tempo inventando personagem de felicidade pra mostrar para outros. Ele descreve a tragédia da vida de maneira sublime e principalmente real.

Acho que todos nós estamos muito longe da felicidade, na verdade apenas fingimos tê-la pra fazer inveja ao vizinho, mas no fundo somos tão vazios, tão incompletos, tão sem sentido como todo mundo. Todos sentimos isso, o que difere Schopenhauer, e agora eu, é que admitimos isso. Então decidi fazer assim, vou andar pelo caminho certo e não pelas vias contrarias, todos achavam que Schopenhauer era doido em sua época, mas o que eu vejo é que ele era o único sóbrio do meio que lhe desprezou, dos críticos acadêmicos, dos senhores do conhecimento, dos ministros da cultura enfim, todos aqueles que tinham o poder de decidir sobre quem deve ou não ser reconhecido. Hoje não é diferente o mundo todo está no caminho contrario, os nossos senhores do conhecimento, os nossos ministros de cultura e nossos governantes, aqueles mesmos que continuam decidindo quem é e quem não é, são todos loucos, todos estão caminhando por vias erradas, mas todos nós, também, estamos fingindo que está tudo bem. Na verdade tudo está assim, porque temos, e sempre tivemos a mania de dizer que tudo está sempre bem, fingir que tudo está sempre bem. Mas a solução é dizermos o que sentimos de verdade, sem preocupação de fazer inveja ao vizinho, é preciso esquecer o vizinho, e de preferência é importante que o vizinho lhe esqueça também.

Nós estamos pensando errado, e principalmente nós estamos a cada dia sentindo errado, isso mesmo, sentindo errado. Você já percebeu que a idéia de que milhões de pessoas no mundo estão morrendo de fome, não lhe toca mais? Ou que existem outras milhões de crianças doentes na áfrica, ou mesmo que seu vizinho está passando momentos difíceis, ou fotos de pobreza e catástrofes, nada disso lhe toca mais. O nosso senso de sentimento está sentindo menos a cada dia que passa, estamos percorrendo o caminho do endurecimento, do dês-sentimento. Não conseguimos ver nada de errado com pessoas que tem milhões e milhões de dólares em suas contas, grandes magnatas, grandes empresários. Hoje, já não conseguimos ver que existe alguma coisa errada com o cenário em que vivemos, alguns tem tanto e outros não tem nem o que comer, isso se tornou normal, como também se tornou normal o sofrimento alheio. Estamos percorrendo o caminho oposto ao sentimento, estamos nos tornando pedras, enquanto o normal seria nos tornarmos cada vez mais sentimentais, mais complacentes, mais tolerantes.

Um dia disseram a uma colega minha na escola que ela não passava de uma amante, ela olhou com ar de serenidade a pessoa que estava lhe acusando e simplesmente lhe disse: eu estou melhor do que você. O que me chamou a atenção nessa história foi à reação ao "insulto", juro que esperava que houvesse bate boca, mas a resposta foi tão serena, que acabou por desarmar a acusante. Naquele momento fiquei a pensar o quanto minha colega acusada falou sem falar, isso mesmo, falou sem falar, é importante que aprendamos isso, nas entrelinhas, de suas breves palavras existia muita coisa. Talvez ela quisesse falar sobre a concepção de dualidade do mundo, por exemplo: se é amante é porque ama e quem não ama desama, talvez ela não amasse a pessoa certa, mas acho melhor amar a pessoa errada a odiar a pessoa que se diz "certa" a pessoa que você acha que é certo odiar, não é certo odiar ninguém. Mas odiar, todo mundo acha normal, porém, os amantes, são criticados. Se fossemos colocar por ordem de classificação de "pecados" deveríamos colocar primeiro os desamantes, os odiantes, os fofoqueiros, os interessados na vida alheia, os falsos e depois de tudo isso viriam os amantes, talvez minha colega preferisse ficar do lado das amantes a ficar do lado do desamor, do dissabor, da inveja, da fofoca, da feiúra. Dos pecados talvez ela tenha escolhido o menor. Por quantas vezes nós não escolhemos o lado do desamor e achamos normal? É como ficar do lado da bruxa na estória de conto de fadas. Assim como fez o Príncipe Charles, ele percorreu o caminho oposto dos contos de fada, ele deixou a princesa pra ficar com a bruxa, e sua princesa era tão linda, eu era encantado com seu olhar de tristeza, assim como acontecia com Schopenhauer, ela era sincera, o seu olhar não conseguia esconder a tristeza e sim sempre refleti-la, era um olhar de pessoa inconformada com a vida, inconformada com as injustiças, tanto é que sua vida foi dedicada a ajuda humanitária. Acho que ela enxergava com olhos de Schopenhauer, e não conformada com sua vida tentou vivê-la de maneira diferente, tentou amar, mesmo passando por cima das tradições, do que se dizia ser correto, ela não ligava para o fato de ser considerada princesa, pois não se sentia princesa, é muito difícil sermos considerados algo que não somos, então Diana abriu mão de tudo que achavam dela pra ser simplesmente uma pessoa feliz. Eu também faria isso, mas sei também, que muitos não fariam, prefeririam ficar com o titulo de princesa, preferiam ficar fazendo inveja ao vizinho, mesmo que para isso fosse necessário jogar sua vida inteira fora. Muita gente joga a vida fora pra fazer inveja, e outros são piores ainda, jogam a vida fora pra poder ficar olhando e criticando a vida alheia, são os desamantes.

Mas agora chego na parte mais difícil, não consigo explicar o senso de justiça das coisas e isso me perturba muito, não sei explicar porque as pessoas boas morrem, porque você morreu Diana? Logo quando você era mais feliz, quando tinha finalmente descoberto um caminho diferente, porque você morreu? Porque Deus deixou você morrer? Você poderia estar aqui, o mundo aprendeu tanto com você, e poderia aprender tanto mais.

Muitos dizem que é preciso sofrer para que se aprenda a chorar, mas ai eu pergunto porque é preciso chorar? Porque Deus deixou meu irmão morrer com apenas 17 anos de idade? Lembro como se fosse hoje tudo que aconteceu, todo sofrimento que passamos, toda dor que até hoje dói. Sempre me ponho a pensar como ele estaria agora, quantas coisas legais ele teria inventado quantas vezes nós teríamos nos divertido juntos, quantas histórias nós teríamos pra contar, quantas brigas, tudo isso me faz falta. Já faz quase 13 anos que ele se foi, pouca gente lembra dele, mas eu ainda me lembro, ainda me dói muito, muito mesmo, ninguém nem imagina o quanto, mas ninguém sabe, ninguém pode sentir por mim, eu não esqueço, as vezes estou com o olhar perdido, estou pensando nele, onde ele estaria agora se estivesse por aqui, muitos me criticam pelo meu olhar perdido, porem, ninguém sabe o quanto dói, pra mim parece que foi ontem. Eu acho isso tudo muito injusto, porque Deus não o protegeu? Porque ele não impediu que ele entrasse no carro que o matou? Porque ele foi o escolhido dentre 6 passageiros? Não sei, prefiro acreditar que Deus, por algum motivo não pode fazer nada em ralação as coisas terrenas, e como diz Rubem Alves em uma de suas crônicas, Deus deve ficar triste como eu, assim como eu ele também não pode fazer nada, Ele deve ficar triste com a minha tristeza, nas noites de chuva Deus deve lembrar dele também.

Devemos escolher o caminho correto da vida, mesmo que para todo mundo seja errado, o que vale é o que você sente, isso eu posso dizer, mas enquanto as coisas inexplicáveis, continuam a me perturbar muito, Minha filha estava viajando comigo, em uma das paradas ela viu uma criança sem as mãos, acho que deveria ser por má formação do feto, não sei, essa criança chorava muito e com o toquinho de seus braços enxugava as suas lagrimas, então minha filha olhou e me perguntou: - papai, porque ela não tem a mão? Eu olhei para o seu rosto e lhe disse: minha filha, eu não sei.

Paulo Roberto Braga 6 de junho de 2006

Um comentário:

Unknown disse...

Me impressiona o quanto sua mente é brilhante... Linda reflexão, Paulinho!