segunda-feira, 17 de março de 2008

ANTIDEPRESSIVOS

Gosto muito da década de 80, pois tenho na cabeça que nessa década fui realmente feliz, mas dizem os cientistas que todas as pessoas cristalizam um tempo, como os melhores, e não adianta dizerem pra eles que não é verdade, sempre recusam a aceitar qualquer outra opinião, muita gente cultua a década de 70, inclusive tem gente que até hoje vive ela, assim como naqueles filmes norte americanos que velhos soldados paranóicos acham que a guerra do Vietnã ainda não acabou, e ficam o tempo todo alertas ou escondidos a espera do inimigo, acho que muita coisas se cristaliza em nossas mentes e temos como verdade, por exemplo: tem gente que se veste de Elvis e realmente acha que é Elvis, ele não se vê como um cover, ele simplesmente cristalizou na sua cabeça que é o próprio Elvis, e quem vai dizer que não pra ele? Ai vc sabe o que nós “normais” dizemos? Ele é louco, então jogamos ele pro outro lado da cerca da sanidade e ficamos do nosso lado, o lado sadio da cerca.

Isso me faz lembrar uma musica da Adriana Calcanhoto que se chama “A ciranda da bailarina”. Mas aviso logo, essa é uma música que tem que ser ouvida até o fim, e depois analisada, pois a principio ela parece um pouco desagradável da vontade de passar, mais depois vamos conseguindo entender a mensagem, quando puderem ouçam essa música (não achei na internet pra disponibilizar pra hiperlink),muita gente não quer assumir, tem horror de assumir suas paranóias, tem medo de serem jogadas pro outro lado da cerca por seus amigos e amigas que também escondem as suas paranóias por causa de seus outros outros amigos. Meu próprio pai também tem suas paranóias, não existe nem uma musica gravada depois de 1979 que preste, ele se recusa a ouvir, ele reclama mais alto que as músicas, até elas acabarem, ou fica em silêncio profundo, numa concentração tão intensa que bloqueia seus ouvidos. Eu aprendi a assumir minhas paranóias cristalizadas que são várias, todos nós somos Elvis, estamos do mesmo lado da cerca da sanidade, mas hoje vou falar apenas de uma. Que é a minha paranóia cristalizada pela década de 80, adoro tudo da década de 80, até mesmo da inflação, do Sarney, nada escapa ao meu amor pela década, aquelas notas de cruzado eram lindas, mudavam todo o tempo, o cheiro dos carros a álcool, meu pai tinha um Chevet, mas eu achava lindo os Monzas, até hoje tenho vontade de comprar um, fazia coleção de figurinhas de Ploc Monster com meu irmão, as figurinhas tinham nome de pessoas, a figura com meu nome era horrível, (quase acabamos com nossos dentes) O Hee-Man, os Smurfs, os comerciais da estrela, a série do Magaiver a Armação Ilimitada, até um dia desses tinha o Kadu Moliterno como ídolo (ai ele espancou a mulher dele e fiquei decepcionado), a formula 1 era o máximo, adorava o Senna, meu Atari era melhor que qualquer Playstation 3, e as músicas então? Paralamas do Sucesso, Biquine Cavadão, Kid Abelha, Nenhum de nós, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana.... Tudo era melhor na década de 80, as caixinhas de leite tinham uma vaquinha na frente, eu confiava tanto nelas, tinha certeza que elas não vinham com soda cáustica, o Sarney sabia ler, os monzas não arrancavam dedo de ninguém, o Magaiver não era Lost, a Armação Ilimitada não era Minha Nada Mole Vida, o Senna não era o Rubinho, os Paralamas não era Bruno e Marrone, a Paula Toller não era a Preta Gil, Biquine Cavadão não era MC Crew, o Nenhum de Nós não era Calcinha Preta, o Engenheiros do Hawaii não eram a Banda Calipso e finalmente, graças ao meu bom Deus legião Urbana não era Nx zero.

Na década de 80 tinha uma enorme TV preto e branco em casa, era linda, logo depois meu pai comprou uma TV colorida, mas isso não era pra qualquer um, era como ter uma TV de plasma de 50 polegadas hoje em dia, era coisa rara, 99% das pessoas tinham TV em preto e branco, confesso que gostava mais da preto e branco, parece que eu pressentia que se eu deixa-se o tempo passar, as coisas evoluírem e a mágica da felicidade iria se acabar. Assim como hoje, na década de 80 as pessoas também gostavam de se enganar, já vi gente enterrar a TV na parede pra parecer de plasma, pra se sentir incluído no seleto grupo de pessoas com TV de plasma, mesmo sabendo que lá no fundo não estão, mas pelo menos se sentem um pouco melhor, na década de 80 existia uma telinha meio azul-esverdeada que se colocava em frente a TV preto e branco e ela quase se tornava colorida, era quase perfeita, a roupa da viúva Porcina quase parecia colorida, a grama do futebol era quase verde, a camisa do Zico era quase vermelha, era muito bom, “não precisa gastar dinheiro comprando uma TV colorida” diziam os sem condição nas esquinas. Mas aquilo era mentira, não era nada parecido com uma TV colorida, era horrível, servia apenas para amenizar a dor da exclusão, por um pequeno período de tempo as pessoas podiam pensar estar diante de uma televisão colorida, mas logo caiam na real, que na verdade não tinham dinheiro pra comprá-las, mas no fundo no fundo, essas telas serviam, pois amenizavam, pelo menos um pouco a realidade, e as vezes amenizar o mínimo que seja a realidade, pode ser decisivo, assim são os antidepressivos, me fazem parecer que estou nos anos 80, as vezes até acredito estar feliz, que estou naqueles dias bacanas, brincando com meu irmão no quintal de casa, mas logo vejo que é apenas uma tela na frente da minha TV em preto e branco, minha vida e outra, meu irmão já partiu a muito tempo. Mas vou continuar com minha telinha na frente da televisão, pois por menor que seja minha ilusão, sei que ela é decisiva agora.

4 comentários:

A! disse...

Ler o teu texto me fez parar e pensar nesse tempo tbm, em como todo era tão simples e tão melhor. Sempre me pego pensando nos desenhos animados antigos, na coisa das figurinhas... nas brincadeiras de pega-pega na rua...
As músicas sem sombra de dúvida eram melhores, agora tudo gira em torno do "Creeuu" rs...

Mas a vida é isso, uma viagem só de ida! E ao longo desse caminho temos q deixar pessoas, e coisas... até o dia q nós mesmos vamos descer, e chegar ao fim da viagem!

Abraço Paulinho! ^^

Anônimo disse...

E aí Paulinho, blz! Sou o Edilson, atendente do Bolsa família aqui do Ipixuna. Kra, ainda ñ tiv tmp di lê tds os teus blogs, mas o "ANTIDEPRESSIVOS" mi fez voltar no tempo, q tempo bom q naum volta nunca + o da década de 80 né mesmo? Os desenhos animados, as brincadeiras, as programações, eu era fanático pelos desenhos da Hanna Barbera, as coleções Marvel, "Teia do Aranha", X-man, etc. e as músicas então! Até hj curto muito MPB, a maioria dessa década. Esse blog me fez realmente viajar no tempo, até hj tenho um desenho do Thiago do "Ploc Monters" num caderno lá por kza, uma verdadeira aberração. Enfim, nada como um bom momento de distração pra gente voltar a ser criança, adolescente novamente, pois por ser um processo irreversível é sempre bom poder recordar o passado e mergulhar nos momentos marcantes q ficaram pra traz. Valeu mesmo kra. Tudo de bom pra ti e toda tua família, fica com Deus.
Um Abraço.

Karina Assad disse...

Muito bom o texto Paulo, realmente a década de 80 foi nossa "terra do nunca"...também lembro da caixinha de leite com a vaquinha, hahahaha!!!

Unknown disse...

Adoro "Ciranda da bailarina"... E nunca achei um termo tão adequado quanto "paranoias cristalizadas"...

Algumas coisas não deixam de ser atuais...